Dec 28, 2008

pepino pequenino

No avião Genebra-Lisboa, um casal anglófono com uma filha de uns 18 meses. Para distrair a miúda durante toda a viagem, um pouco mais de duas horas, mostram-lhe imagens de ela própria dum leitor de DVD portátil. E de facto ela não pia, nem descola os olhos da sua pequena e exclusiva pessoa.

Dec 27, 2008

peúgos

Antes de sair da Suiça, encher as malas de peúgos. A qualidade peúgal sendo proporcional à proximidade do círculo polar, os suiços são melhores que os português. E os scandinavos melhores que estes, mas faz-se o que se pode.
Serão precisos imensos na noite de Fim de Ano, para distribuir aos amigos. Começar o ano novo de pé virginalmente vestido é uma grande ajuda. Manipula o futuro no nosso sentido, muito mais do que aquelas ginásticas engolidoras de passas, que são perigosas. (Manipula? Pedipula.)
E não me venham dizer que são meias. Meia leca meia tigela meia de vidro, aquilo não aquece ninguém. Peúgos.

trois trembles (4)

Pour la première fois de nuit, pour la première fois en hiver, il a fallu reprendre le chemin de l'hôpital aux confins de la ville.
Il y fait si chaud que mon père, malgré la pneumonie, porte sa chemise de nuit ouverte, et le tube à oxygène repose sur sa poitrine complètement glabre. J'ai toujours su que c'est de lui que je tiens ma chevelure épaisse, mais là, dans cette chambrée de vieux monsieurs qui s'endorment l'un après l'autre, je me dis soudain que si je ne dois m'épiler qu'une fois toutes les trente-six du mois, c'est peut-être à lui aussi que je le dois.
Je lui souris, et il me raconte en riant qu'au médecin grec qui lui demandait si, au cas où il mourrait, il acceptait qu'on tente de le faire revivre "avec des coups", il a répondu non. Aux autres questions, qui impliquaient l'autorisation de soins invasifs divers avant qu'il ne soit "tout à fait mort", il a dit oui.
Avant, mon père disait souvent "hôtel" pour "hôpital" et "secrétaire" pour "infirmière". Plus maintenant.

Dec 24, 2008

l'adjectif qui vient de Noël?

(edit noël 2010 : ne cherchez plus, en français, il n'y en a pas. il vous faut l'inventer. suggestions ici)

 L'appart de P. sens-dessus-dessous pour les fêtes, je couche à la cuisine. Endormie dans l'odeur des Stolen et des petits choux, dont la dernière fournée est sortie passé minuit, nuit plus natalice tu rêves.
Je pense à l'an passé, et les deux manières sont matière de moi.

(edit noël 2011 : toujours pas. )

Dec 21, 2008

not darwin, but dante

Hier soir autour de la table, tout le monde s'est évertué à retrouver quelle contrée de l'enfer porte un nom de fromage. En vain.

Dec 17, 2008

A caminho da coop,

começou a nevar.Já me mudei para a cidade, ainda não parou. Amanhã tento a ausência que a neve faz nos desenhos.

Dec 11, 2008

esqueçalhuda

dia 8 foi o primeiro aniversário da zeroglota, e não me lembrei.

Dec 10, 2008

Protestant abyss

Yesterday I received a heavy letter. "It takes a protestant country to print carrots on international stamps" wrote the Scout Sender, after more important matters. How true thought I, before really looking into the matter. But then I did... Remember me talking about shadow sides? Well and do you see the small inoffensive hole in the wooden board under the carrots? My eyes, long as winter nights, had to peep into it. And this is what they saw: Can you guess where this church stands? Can you? You're right, Korpilombolo.

Ah, outra coisa completamente: o dono indiano da cyber-caverna, a quem pedia um scan das cenouras, como que congelou. Até gaguejou. Queria saber se eu era de lá, Sverige. Porque Sverige é onde ele quer ir, onde tem a família, Portugal é só o vestíbulo, o purgatório que leva a Sverige. Não sou de lá, não. Perguntou há quanto tempo estava cá. 20 anos, enrubreci, caindo de outros tantos degraus na escala da sua consideração.

Dec 9, 2008

The Royal Family

Except for a sunny intermission (remission would be more to the point) yesterday afternoon, i read one book for almost three consecutive days. One fat book. Couldn't sleep tonight and read, woke up soon and read, no coffee no breakfast, until it was over. But not done with. Hopelessness can be addictive.
Now I'm drunk-like and the sun hurts.

Dec 6, 2008

Em pé na cozinha enquanto esperava que o cafe subisse.
A tentar lembrar-me das palavras do sonho, no qual depois duma lenta tomada de poderes tinha eu abatido com três cotoveladas na cara três transeuntes cada um de sua cor (cor de flor, não cor de raça). Presa e levada escadas abaixo por um polícia, tinha não para me desculpar mas como se fosse uma explicação, feito um longo discurso sobre máquinas inventadas por nós humanos. Tantas, para tantos fins, mas só uma com valor: a máquina de costura.

Dec 3, 2008

don't know why, don't know why
so i made an apple-pie, apple-pie, apple-pie.

today

my house stinks and i don't know why

Nov 29, 2008

3,8 million years, wasted.

In the New York Times, in an article about a new study by Harvard researchers on the premature deaths that could have been prevented if the South African government had provided antiretroviral drugs to AIDS patients and widely administered drugs to help prevent pregnant women from infecting their babies, this :

« The 330,000 South Africans who died for lack of treatment and the 35,000 babies who perished because they were infected with H.I.V. together lost at least 3.8 million years of life, the study concluded. »

3.8 million years ago, in that same South Africa, some apes very very slowly began to discover their front paws could be used for more then just locomotion. (Almost 2 million years later, they had hands with opposable thumbs and weren’t apes anymore.)

Nov 28, 2008

e-pifanço

Se me pifou a wifi partilhada com os vizinhos. Eis-me de volta as cyber-cavernas. Talvez seja mal que vem por bem: adoro teclar entre estranhos, batatas fritas e hortaliças. Esta caverna é indiana, no balcão a televisão sintoniza a CNN e a conversa rola por cima da minha cabeça, a volta dos ataques em Mumbai-city. Falam como quem sabe, o Taj, o Leopold, eles conhecem.

Nov 27, 2008

Uma vocação (e o seu sintoma)

Sempre que entra numa pasteleria, F. não resiste: vai direito a vitrina das tortas de aniversário e ali verifica a ortografia dos votos escritos à fio de chocolate em cada uma delas.
E ai do empregado se faltar nem que seja o acento de Parabéns.

Nov 25, 2008

Seeing her face in the bathroom-mirror, Emilia suddenly remembered what she had dreamed.

Nov 22, 2008

Nov 21, 2008

fire-breather

there is a third one in the oven

Nov 20, 2008

na minha rua

É a hora onde o céu ainda está violento com o poente de outono, mas nas ruas já é noite. Da mercearia surge uma voz jovem "estive a morrer no hospital e ninguém veio ter comigo. Agora não vou, não." Cheira a tangerina e urina de cão.
Depois, atrás da curva, quando a subida se torna coisa séria e os candeeiros enfraquecem, uma mulher de sari tenta apaziguar a birra do filho mais novo, quatro anitos teimosos num bibe amarelo. O míudo amua, bate com os pés, anda uns passos a frente. O irmão mais velho aproxima-se da mãe, e diz, baixo : "ele é o mais intelligente da escola".

night-fright from the future

Yesterday, coming back from having seen only half of "Still Walking" by Koreeda Hirokazu (the digital projector fried and couldn't be repaired), the face reflected in the train window was the one I'll have in 10 years.

Nov 19, 2008

Nov 13, 2008

mémoire du corps

au vestiaire les bébés danseuses occupent le banc juste à côté de moi. je les regarde et rien à faire, je n'arrive pas à me souvenir de ne pas avoir eu de seins.

Nov 12, 2008

mas felizmente amanhã não é hoje.
dia de zigue e de zague, de decidir e desdecidir, esticar o esforço e deixa-lo arrefecer.
estoirada esgotada, parece. afinal não. ainda falta. Hoje já é amanhã.

Nov 9, 2008

premières langues

N. m'a apporté des navettes fendues comme des foufounes, dit-il, des vraies, des parfumées de la Rue Sainte, des miraculeuses, et ce soir je lui ai fait des langues de morues. On a parlé littérature.
J'ai plongé dans la chambre des cochons à la recherche de Ceronetti, j'en suis ressortie avec le Baluchon maudit et la Vie des saints du Jura. Ça a fait un mélange marrant qui allait bien avec le fromage.

Nov 7, 2008

China

Aos pais que perderam o filho nas escolas que o terramoto fez ruir, o governo chinês deu licença especial para fazer outro, para substituir o falecido.
Lá ninguem tem irmão. Só os velhos se lembram do que é ter mana mano manos.
Uma nação de filhos únicos.
La cuisine, les garçons qui passeront peut-être avant de ressortir, le verre de vin. Je déploie des ailerons de paresse, mais gonflés pour prendre chaque brise la plus minus, pour combler un retard qui étrangement ne me mord pas. Je le croirais presque sensé. Atteindre au vite par la lenteur est une stratégie dangereuse. Mais là toute posée mollets tendus pour ce qui viendra, j'ai pas peur.
je devrais?
devrais pas.

Nov 6, 2008

ce matin

Feux de sarments dans les vignes jaunies entre lausanne et genève. La fumée comme un animal malade rampe contre l'automne vif des peupliers.

Nov 4, 2008

ein Blech Kekse, ein Boot, ein Brief.
Nichts war da, und jetzt ist's doch da.
Hände können laut und können leise.
Essen oder Katze kraulen, das kann jede Hand.
Eine braucht Minuten um die neue Leber zu nähen im alten Körper.
Manche Hand kann Tage brauchen
um den Weg zu finden zur Tür, im unbekannten Zimmer.

Nov 3, 2008

afinal o velho encanto

há uns dias, uma semana talvez, Emília inocente e distraída foi beber café num egipto de pasteleria. O jornal estava a mão, ela fê-lo durar. Na mesa do lado, dois moços duas moças, todos eles limpinhos e com ar de quem almoça as quatro porque o trabalho é muito, mas não cansa. Um dos moços, cara de se chamar Miguel, rosto longo, maxilento, olhos amêndoas em olheiras redondas, muito juntos entre orelhas imensas, tudo isto salvo de qualquer feiura por uma regularidade áspera de eremita bizantino, Emília viu de ver. Depois saiu e achou-se esquecida. Até que há pouquinho se perguntou donde que vinham aquelas maças-de-adão em todo e qualquer cara-de-homem que lhe saía da caneta, se nunca antes desenhou maças-de-adão. E lembrou.
ó cobra linda cobrinha vai-te do meu caminho

Oct 31, 2008

éconocroque

il n'y a pas si longtemps, comme je lui demandais de venir m'aider au cérébral ménage, subzero a incliné la tête vers la gauche, et a souri à l'invisible, ce qu'elle fait très bien, l'animale. elle a dit: " la seule chose vraiment passionnante, dans l'ivresse du sudoku, parce que les chiffres passent vite et reviennent souvent, en boucles, en vagues, insensés, la chose passionnante c'est la façon dont ils prennent une identité, les chiffres. Une personnalité leur vient, on les reconnaît, comme des amis ou des voisins irritants ou dieu sait, mon sept est un jockey distrait et élégant, le cinq une espèce de robin-des-bois très raisonnable, le huit une marie-couche-toi-là qui se vend au plus offrant. selon qu'ils se pressent ou se dérobent, et dans quel ordre, un fil émerge, une ébauche de narrative. de temps en temps ils changent de caractère, on ne sait pas pourquoi, malgré tout ils continuent à se ressembler assez pour que ça crée une continuité et comme une épaisseur parfois moqueuse à cette sombre affaire qui n'en a nulle."

Il faut dire qu'avec elle, rien ne se perd. Elle vous recyclerait jusqu'à l'écume de ses hésitations.

Oct 25, 2008

harsh times

Dragons are fewer and fewer nowadays and Subzero was pondering on taking a side-job. (She can't let her cat go hungry, and if you think a cat can live on rose-petals and ear-wax, you don't know hers.) Emilia offered to hire her part-time to scare pigeons off her balcony, where they coo awfully distracting pigeon sitcoms. The Rainbow Scout, ever so thoughtful, brought the special scary hand-gear from Stockholm. That's what friends are for.

Oct 24, 2008

sagrado coração

ao fim da tarde o altifalante do externato invisível manda para casa meninos muito concretos:

16:33 Vasco Manteigueiro pode ir.
16:58 A menina Inês do quarto verde pode ir.

Oct 20, 2008

zero minus one

preciso mesmo duma palavra

Oct 17, 2008

it's early, i'm hungry, i didn't do half of what i wanted, i didn't speak to any live person- one phone call doesn't count- oh, not true, the russian worker at my neighbour's wanted to know when i'm home so he can access the back wall trough my windows, doing beauty work, just hiding the holes, not really making it waterproof, i'm home monday, about my own work i still didn't abandon the idea that i will do it tonight but before i'll go and eat the rest of the pumpkin soup, this silly correction program only accepts capital i for me myself but this is ridiculous if i put a capital to You who am i speaking about?

Oct 16, 2008

Quando descobriu que o seu médico tinha oito filhos, procurou outro.

Oct 15, 2008

avant que mercredi soille jeudi

je m'excreuse le net à la recherche d'une photo de faîne (y'en a PLEIN, ce qui veut dire que y'a PLEIN de gens qui photographient des faînes, ça alors!) mais j'en trouve pas une qui montre la ravissante fraternité entre une faîne à demi ouverte et les oreilles d'un grand-duc hibou. Là, peut-être: Non? ça saute pas aux yeux? C'est pour ça que je me désespère, ère, ère... D'ailleurs je sais même plus à qui je l'ai piquée, c't'akène, wiki probablement. Finir au trou pour un vol de faîne...

minuit à l'horloge ornithologique


(faîne. J'ai dico)

pois pois

Reboliça a lua desaparece no rosa, na rua uma corrida de saltos appressados faz parar os chilreares um segundo (os pombos ainda não emitem os b-arulhos de ralos desentupindo que lhes servem de comunicação, bendita perguiça) e eu tenho a dizer
- que desde ontem que não me consigo lembrar do nome francês da fruta da faia (isto por causa das orelhas dumas corujas que as têem longas e penugentas)
- que Rumpelstilzchen se diz Rinkrank em inglês (as princesas anglo-saxónicas têem sem dúvida a vida muito facilitada, justiça madrasta)
- e que tive de acordar Subzero do seu sono interdragónico para vir a minha casa cortar mais uma cabeça do velho verme do sudoku. Ela veio. Já se vê.

Oct 10, 2008

doca seca

Intendente

Heure de pointe dans le métro. Deux jeunes filles, l'une assise, l'autre debout, bavardent par dessus la tête des voyageurs. Un homme entre, salue l'une d'elles, trouve une place tout près. L'autre - curieuse, il est joli garçon- d'un sourcil relevé demande à sa copine d'où elle le connaît. Celle-ci lui répond en joignant brièvement les mains: "de l'église". Cela suffit pour que l'intérêt de la première disparaisse d'un seul coup, abolissant pour ainsi dire la présence de l'homme. Ça s'est fait en silence, deux gestes et 5 secondes.

Oct 8, 2008

j’ai perdu mon carnet d'ivresses.

Oct 7, 2008

les héros

Le plus difficile est de leur donner un nom.
Un héros avec un mauvais nom n’a aucune chance. Rien à voir avec un cheval de course, un cheval de course peut s’appeler Caramel de Canard, tromper son monde et vous gagner l'affaire en deux tours de cuillère à pot. Pas un héros.
Il faut viser juste, sinon toute l’histoire risque de partir d’un drôle de côté.
Há dias onde conseguir lembrar-se duma chave de 26 algarismos é o único indício de sanidade mental.

Oct 5, 2008

Korpilombolo Project (3)

We all know the delicious zeroglottism of online translations:
The Swedish (the English has only one sentence) Wikipedia-entry tells me that:
Namnet kan ha antingen samiskt eller finskt ursprung. Det samiska ordet kuorpa betyder ”land, härjat av skogseld” och luobbal utvidgning/lugnvatten i å/älv.

when i have it traduced, out comes this:
The name may have either Sami or Finnish origin. The Sami kuorpa word means "country, wracked by FOREST FIRE" and luobbal expansion / calm waters in the / river.

country wracked by forest fire by the calm waters of the river? In 13 letters? The Sami (or the Finns) must be precise people. (Since I saw their perfect podlike reindeer-sledges in "Kautokeino opprøret" I favor the Sami...)

Just groping around: About Greiff's "mástil rosa e negro": a pink and black mast? Except for the obvious, mástil also means the neck of a guitar, or any such music instrument. Often black and sometimes made of rosewood.

Oct 4, 2008

a diferença 2

"I have been writing a lot about money lately, it is a fascinating subject, it is really the difference between man and animals, most of the things men feel animals feel and vice versa, but animals do not know about money, money is purely a human conception and that is very important to know very very important…"
Gertrude Stein in Everybody's Autobiography

Oct 3, 2008

caseira ma non troppo

Hoje fiz marmelada, com marmelos do pomar da fruteira (aí! a frutaria depois de 10 dias de Islándia! um jardim de Eden). Ficou bem, va lá, ficou marmelada.
Mas porquê é que já não se encontram daqueles marmelos peludos, duros de partir facas, tão cheirosos que só de abrir um ficava a casa perfumada? Onde é que desapareceram?

Oct 2, 2008

De Homem para Homem

A peça vai ao meio. Beatriz Batarda, sozinha em palco, já foi velho a escarrar, velha ordinária, menina assustada, rapaz em noite de primeira piela, apaixonada sem sorte, e ainda há de ser muitas mais incarnações da mesma mulher, Ella Gerricke, que resolveu passar por homem para sobreviver na Alemanha dos anos 30 a 80. Agora está na pele de Max, o próprio marido, atrapalhado com as avanças duma rapariga - um pêssego-, em quem não sabe se pode confiar. A míuda oferece-se, Ella/Max hesita, punhos nos bolsos, doçura é doçura, e há tanto tempo que ninguêm lhe mostra carinho... quando um telemóvel toca na sala. Beatriz Batarda não pestaneja, fala, calma: "Desligue isto se faz favor." Uma senhora aflita vasculha no saco. Beatriz: "Vou esperar. Este momento é tão bom". A senhora encontra o telefone. Beatriz feita Ella feita Max volta a avançar os lábios para a bela. Mesma intensidade, mesma tensão, mesmo andar seguro na corda bamba entre irónia e grotesco. Até ao fim. Até que a morte venha, não magra e fininha, mas em cima de patinhas fofas.
Tanto controlo, tanto dominio, tanta entrega.
Tão bom. Sim senhora Senhor.
E obrigada.

Oct 1, 2008

se uma coisa é um bem

Protect your things
Proteja os seus bens

diz um letreiro luminoso no metro. E os meus males, quem os protege?

(só na internet é que mal tem plural. O meu dicionário, que lhe dedica meia página, se fica pelo singular.)

6 de Outubro. Maldita memória: é belongings, não things. Pertences.

Sep 30, 2008

regresso a casa

No radio, alguém fala de "veículos em fim de vida". Expressão fundamentalmente errada (a vida não é isto que um carro tem) e perfeitamente adequada (nossa vida é isto).

Sep 26, 2008

Islande (2)

dans la petite ferme lechee par le glacier, battue de vents, une vertebre de baleine maintient ouverte la porte de l'etable.

Sep 22, 2008

True aesthetics

Even in the worst hungertimes, Icelanders never ate ugly fish, only pretty fish, says the blond lady sitting across me in the restaurant, enormous brown breakers crashing behind her. We are eating cod, and she is called Drifa, blown snow.

Sep 17, 2008

Um sétimo do Inferno na Praça da Figueira

Confeitaria Nacional. Compro bolinhos de amêndoa para um amigo longínquo. Apressada e mandona, uma senhora ventripotente se dirige à empregada que avia o meu pedido, manda-a embrulhar roscas de limão, um saquinho, para mais logo. Roscas de limão? Não conheço. Peço à empregada que me pese uma, para provar. Ela, simpática, me oferece a dita por cima do balção, na ponta das suas pinças pasteleiras. E vejo a ventripotente ter uma espécie de espasmo do corpo inteiro para apanhar o biscoito, um reflexo de sofreguidão que só a custo consegue reprimir. Ponho o biscoito na boca, a mão dela treme de tanto querer. Enquanto não engulo, os seus olhos não me larguam os lábios. Isto não é fome, vem doutro sítio.
São bons, digo, para sacudir o desconforto. Muito finos, responde-me ela, por fim desviando o olhar. Muito finos, de facto.
Agora já consigo imaginar como é que a gula foi parar aos pecados.
gosto de impermeabilizar sapatos de andar longe

Sep 15, 2008

Korpilombolo Project (2)

The Rainbow Scout is at it again.
Im Herbst 2004 wurde in Korpilombolo ein Symposium über den kolombianischen Verfasser und Diplomaten Léon de Greiff (1895-1976) veranstaltet. Dieser gilt als eine der eigensinnigsten Stimmen in der südamerikanischen Lyrik und war auch in der engeren Wahl des Nobelpreises einbezogen.
...Leon de Greiffs Grossvater, Carl Sigismund de Greiff, trat nämlich mit seiner Gattin im Jahre 1825 von Malmö aus seine Reise nach Kolombien an.Korpilombolo erhielt in de Greiffs Büchern eine philosophisch-symbolische Bedeutung als "den absoluten Zufluchtsort ". Dies sollte im Zusammenhang gesehen werden mit der Zeit, die de Greiff im kolombianischen Ort Bolombolo ("Gaspar von der Nacht in Korpilombolo" ) verbrachte.


Ok. Bolombolo. A "populated place" (meaning really small) of touristic appeal on the Caucha river in Colombia, between places called Venecia and Concordia and Angelopolis.
I won't go into Gaspard de la nuit, cette nuit. it's too late.
Just one more thing: my Rainbow Trout also tells me Leon de Greiff has written something called Variaciones alrededor de la nada, Variations around nothing.
So i looked for nothing midway between Korpilombolo and Bolombolo. I found it immediately. It's called Lombolo. Another "populated place" in Congo near the border to Gabon. Here it is: Haven't counted kms yet, but wouldn't bet my new ice-gloves on too much asymmetry.

Next morning:

If I get to keep my gloves depends on how much precision you want: Bolombolo sits at the point of an almost isosceles triangle.
Korpi-Bolo 9780.2 kms
Bolo-Lombolo 10056.4 kms

Lombolo-Korpi 7928.4 km

Sep 12, 2008

Axis? Ou Atlas?

Tudo está em equilibrar bem o peso que carrega. Senão, um pequeno estalido na nuca, a cada passo, lembra-lhe sem amabilidade o envelhecimento da sua arquitectura interna.

Sep 3, 2008

3 trembles (loi de la relativité)

Entre l'arrêt de bus de l'hôpital et le champ de tournesol, un terrain de pétanque abandonné. Quelques chênes lui font de l'ombre. Aujourd'hui, peut-être une question d'horaire, je suis seule sur le banc, d'ordinaire très concourru. Par terre, toute une flopée de petits glands, si jolis que j'ai envie d'en ramasser. J'en attrape quelques uns, sans trop regarder. J'ouvre la main sur trois glands jaunes et un diamant de la taille d'un bouton de pyjama. De pacotille, le diamant? Pas à côté d'un gland, je vous jure.

Deux minutes plus tard, le bus traverse le parc. Le chauffeur me reconnaît déjà, on bavarde un peu. Un orage approche, la lumière est magnifique et menaçante. Par une échappée entre deux bãtiments hospitaliers cossus, je vois un homme en blanc avancer tête baissée, blouse volante, sur un sentier qui longe le bois. Quelque chose le préoccupe. En blanc au milieu de tout ce vert fouetté de vent, irradiant une force introspective et concentrée, il a l'air d'une bête sauvage, d'une couverture du national geographic.

Sep 2, 2008

3 trembles (3)

A visitar lar após lar, envelhece a olhos vistos. Numa semana, ganhou 10 anos. Por este andar, terá 200 pelo Natal. Com tanta vela por apagar, o pinheiro servirá de bolo, até dá jeito.

Sep 1, 2008

3 trembles (2)

L'infirmière à qui je demande des renseignements sur l'état de mon père porte elle-même les signes d'une chimio récente. Elle est aimable, bien informée, claire. Malgré cela, en la quittant, je me rends compte que je lui en veux. Pour sa perruque, l'arc glabre de ses sourcils, je lui en veux! Comme si elle n'avait pas le droit d'être malade ici, comme si ça portait malheur. Pire, comme si sa maladie était la preuve de son incapacité à soigner, à guérir. Quelque chose de bien enfoui en moi désire apparemment des soignants infaillibles en armure de lumière. Du surhumain, pour avoir confiance, éliminer la peur. Me revoilà gamine.

Dès que le soir tombe, dès que la moindre chose va de traviole, les sales cafards se pressent. On les croyait exterminés, mais que dalle, je vais avoir besoin de tous mes yeux pour les dépister, de tous mes pieds pour les écrabouiller.

Aug 30, 2008

bem feita

Tudo aqui numa efervescência: um grupo de cientistas fez queixa ao Tribunal dos Direitos Humanos, de uma experiência que outro grupo de cientistas prepara para dia 10 de Setembro, no anel subterraneo do LHC (quê? Grande Collisionador de Hadroes?)do CERN, aqui ao lado. O primeiro grupo acha que o empreendimento inclui um risco de criaçao de diminutos buracos negros, que bem podiam instantaneamente engolir o nosso mundo inteiro, nao deixando nem uma migalha. Assim, gnap, acabou. Os Cernistas so gritam ao disparate, claro.
Eu que devorei ficçao cientifica como amendoins, que leio tudo (e nao percebo nada) de astrofisica e afins, nunca me tinha calhado fim do mundo tao adequado. Acabar tudo numa experiência para tentar descobrir como é que começou...

Aug 28, 2008

3 trembles

A l'ombre d'un hêtre du jardin de Gériatrie, une brune épile le menton de sa mère, assise très droite dans sa chaise roulante. De l'une, les longues brucelles dans la main sûre, de l'autre, le cou tendu dans la confiance de l'habitude.
Il fait doux.

salt

In the unfamiliar kitchen, I smell at the box of white cristals, to make sure it's not sugar I'm sprinkling on the food.
Unexpectedly, I retch. The salt here has a special smell. They mine it from under the rock, but that's not what makes me retch. It comes from very far away, from a day I haven't thought about in decades, but here it is, all pristine and prousty (Beat that: 2 words that manage to be synonyms and antonyms at the same time)
My older sister and a friend, maybe 10 years old at the time, were fighting over the leadership of a yet unborn girl gang. They decided on a test of willpower. The one who ate more salt would be the boss. God knows where that challenge came from. So they did, spoonful after spoonful. They didn't get very far, maybe 2 or 3 spoons each. They felt very bad very fast, I (?) went to seek some help, they were brought to a hospital. I remember feeling disappointed, I'd been expecting a long thrill...
Left alone that day, of course, I tried the salt. Just a tiny spoon, not even really full.

Home is where the poison is.

Aug 25, 2008

The Korpilombolo Project

Korpilombolo is a community of 548 inhabitants in the north of the north of northern Sweden. Nothing there except pines and wind. Wikipedia states the world largest sun-dial, and Sweden largest telecommunication mast as the interest of the municipality. But Wikipedia doesn’t know it all. A Raibow Scout in the narrowest street of Stockholm put me on the tracks : Korpilombolo is double. Korpilombolo has a shadow sister.
(more later)

Aug 24, 2008

Amiúde


Amiúde, na curva da rua, encontro bilhetes de comboio usados. Uma ida, uma volta, nunca juntas no mesmo bilhete, dois rectangulos rosas, à antiga, ligados por um agrafe. Porquê tantos, porquê sempre ali? Será uma mulher que os guarda na mão até ao último momento, até à porta de casa, quando o medo de ser descoberta a obriga a separar-se deles? Alguém que costuma fumar ali o primeiro cigarro do dia e em vez do isqueiro, de cada vez apenas encontra o raio do bilhete agora inútil? Apanho-os, não há como não, e leio-os, os bilhetes das viagens de outrém, até os buraquinhos do revisor leio. (Pois, assim pode ser a leitura) Atiro-os fora alguns metros mais longe.
Talvez de mão em mão dêem a volta ao mundo e sejam eles mesmos que vou encontrar, na curva da rua, daqui há umas semanas.

Zero: amiúde é palavra que não se diz. Escreve-se, se tanto. Roubei à um francês que precisava de dizer souvent, mas não queria adaptar a estructura da sua frase. Tão profundo o sulco da sintaxe materna.

Aug 23, 2008

dia de afiar facas


1 tokyo 1998
2 lisboa 1998
3 tokyo 1998
4 paimpol 1992 ?
5 la chaux-de-fonds 2003
6 ???
7 feira do relógio 1990

son maître est parti en vacances


sous la gouttière, une chaise d'esbrouffe faux vieux, faux style, foutue tordue griffée d'années de chat, attend.

Aug 22, 2008

Aug 21, 2008

enfin seule


pour aujourd'hui, les deux russes qui retapent l'appart voisin ont fini leur travail. je vais pouvoir commencer le mien.

lapalisse à l'aube

Learning to draw is like slowly passing from passive to active, in a language. Passing from mere recognition to being able to reproduce, and, maybe, to move freely. With drawing, this happens in your eyes, they learn, not your hand. (In the same way language skills aren't learned by the mouth, even if you use it to talk).

Aug 20, 2008

insectos

Alguns dos mais longíncuos visitantes de Zero chegaram à casa dela pelo maravilhoso acaso das palavras chaves de pesquisa:
de Izmir: netful of butterflies
de Delhi: afugentar osgas
da Trofa: caruncho no soalho.

Pergunta do dia: será que Zero não ganharia em abrir uma loja de desbaratizão? Parece fazer bastante mais falta do que arturos flemings, sejam eles um ou dezassete. A eles, ninguém procurou nunca. Enfim sim, Zero, mas deu no que se vê.

Há quem não goste de telemóveis.

Ontem alguém ligou do país das cigarras. Falou e por entre as palavras o quarto na cidade encheu-se infinito do silêncio delas, as cigarras. Ouviam-se as estrelas a cair.

Aug 19, 2008

Ladrões de perdigotos

Durante imenso tempo não consegui entender o gosto da Sofia pelo Adamastor, imagem de perigo imaginado, de terror desconhecido. Afinal é isto mesmo que a atrai.Percebi de repente, ao vê-la despedir-se duma visita nocturna. Preocupava-se tanto com o caminho de volta, enchia a cidade de assassinos. Quase mandou vir o papamóbil para levar a visita a casa sá e salva.
Sofia gosta de adamastores, porque enquanto os houver, sempre terá uma desculpa para ficar em casa.

(carcaças! é papamóvel! mille sorry)

Aug 15, 2008

all the arturos

and this is, well, arturo.b. Born in June of 1967. The stammerer of the family, the silent one. But the best singer too. Over the years B has stood for:
blue bunny (due to his colour when he got home from the hospital, and his long ears)
blood bunny (due to his colour when furious,and his long ears)
be-be-beagle (due to his stammering and budding long-ears complex)

The boys didn't know yet of the love of long ears common in very beautiful women. Later, many a one would invent her own name for him. But none stuck, as hadn't stuck any of his brother's.
He lives alone. Says it's better for his singing.

Aug 14, 2008

Maryann's



By day and by night. Yes, and owls have special feathers to fly silently.

Aug 13, 2008

all the arturos

that is arturo p. fleming. is or was. He was last seen by his brother arturo o, some 3 years ago, packing a light bag for "the week-end at Maryann's" He left a number, and disappeared. Maryann turned out to be a highway dinner out in the bushes. Its male owner answered the phone, and in a soft voice redolent of all kind of detours - if you cared to listen- he said he'd never heard of Arturo P.
Arturo P. was the first of five of them to be born left-handed. But his receiving foot was the right one. So much so, it broke twice. Arturo P. used to jump high and hard.

Aug 11, 2008

all the arturos

Drawing a list of all her brothers being of course Lúcia's idea, we had to begin with the benjamin, arturo d. fleming, born 1977. To any of them, ever, no matter how much they coaxed her, their mother was to reveal what the middle letters of their names stood for, but it was obvious to everybody that not only did SHE know, but that it was momentous. There was a meaning to each small letter, a sense far more important then just a plain initial to a plain name. An oracle maybe, something worth hiding. So the boys took turns guessing, inventing nicknames petnames, sweetnames, according to scars or fashions, haircuts or illnesses. In this Arturo's case, for the longest time, it was easy: D. was for De baby.

Aug 10, 2008

Campo Mártires da Pátria

12:45 domingodiz a senhora que vem de Benfica para cá cada vez que pode. Todos os dias não consegue. Só de falar nisso, vêm-lhe lágrimas aos olhos. Para os patos, ela atira pão velho a superficie do lago. Teve o cuidado de o molhar antes no bebedouro, não vá inchar-lhes na barriga. Com as galinhas, bichos ierárquicos entre todos, é mais complicado: primeiro há que saciar o galo chefe. Ela sabe e ele também. Aproxima-se dela sozinho, empoleira-se na vedação, ela estende uma mão em concha, cheia de milho. O rei debica, debica, debica. Só depois é que os outros comem.

Aug 9, 2008

Paradise (not quite) Lost

Agosto. Rua do Poeta Milton. Entre as pedras da calçada crescem baldroegas viçosas, qb para uma sopa, não fossem os canídeos.

Zeroglottisme culinaire: avec mon pourpier, en français, j'aurais fait une salade, pas une soupe.

(Et un petit bonheur : quand the page at http.//icelandic.hi.is says Þú gast 5 of 5 smöjulegum. Quoi? quels légumes?)

Aug 7, 2008

Diário da República (festa)

foi publicada uma portaria penalizando nas portagens os automobilistas que entrarem sozinhos en Lisboa.
O que se chama um milagre. Se isto pode acontecer aqui, o que não pode?

...umas horas mais tarde: Falso alerta. O ministro do Ambiente diz que era só uma hipótese, uma ideia, que talvez para o ano... Qual milagre, qual quê? Tudo na mesma.

(Subzero on fight-report: third sudoku-free day. Maybe her dragon was more like a overfed glow-worm. Shiny butt, no teeth.)

Aug 4, 2008

Puff

Things I found while browsing for a victorious Subzero slaying the sudoku dragon : (What ? The web, a time-collapsing device ? Neeeever)
The vortex behind San Giorgio, by Ucello : What is lurking there ? it probably has some clear hagiographic meaning i’m completely missing… White is Good… But Good as a Threat ? It has to be a… time-collapsing device. A very defeated wurm, a very tender horse. George austere and up there. Whatever happens happens between the animals. (it’s in the church of Visnums-Kils, in Sweden). My favorite.
No time collapsing here. Time passes and slowly smoothes.
But I see I broke an unwritten zeroglotian rule : not just fish the Net and display the catch. Won't happen again.

war is on !


















Subzero,
the head (and tail) of the anti-sudoku squadron, born this morning.
From today, she'll fight self-hypnosis and time-collapsing devices.
I swear.

Aug 3, 2008

slow times

strange times.
everything i do, i end up having to do twice.

Jul 29, 2008

Lisboa Residentes

hoje um miúdo num colete fluorescente andou a entregar listas telefónicas no prédio. Não tocou às portas, limitou-se a depositar o caderninho sobre o tapete limpa-pés. Caderninho, porque assim ficou, a lista dos fixos de Lisboa. Quando vim viver para aqui, era lista de cidade grande, lista que se deixava ver, gordinha e tudo. Três delas davam para sentar um bébé a mesa com os adultos. Agora desculpem-me, mas devem ser preciso uma dúzia.

Jul 24, 2008

mini calamité

Calamité ça vient de calamitas (latin grand malheur) qui elle-même vient de calamus roseau, par le biais d'une maladie qui les atteignait, ces roseaux.
Emilia ne sait pas à quoi les roseaux servaient aux Latins, quel usage précieux, pour qu'une maladie qui les décime leur devienne synonyme de catastrophe.
Mais pour elle, la calamité du jour, aussi minuscule qu'inattendue, c'est un pigeon mort qui a dégringolé dans sa cuisine par la cheminée, dans un fracas absolument disproportionné, un vrai vacarme de catastrophe.
Emilia l'a trouvé couché bien proprement à côté du fourneau, ses ailes repliées en ange funéraire. Une seule patte pointait, ses griffes avaient l'air bizarre, métallique.
Son oeil était déjà tout blanc, il devait être mort depuis une sacrée lurette. Et il ne pesait rien, bien qu'Emilia ne sache pas ce qu'est censé peser un pigeon, il ne pesait ni un demi ni même un tiers de poulet.
Elle l'a jeté à la poubelle, cet oiseau sec, et l'a descendue immédiatement. Emilia n'aime pas les cadavres.
Par contre elle aime bien les roseaux. Les oiseaux qui y nichent ne sont pas des pigeons.

Jul 22, 2008

promesse

croix de bois croix de fer si je mens je vais en enfer
(ouais mais c'est pas tout, ça, faudra penser à arroser)
(Rajouton du 10.06.2009. Promesse tenue. Le film, un petit film, s'appelera Pique-nique aux îles Éperdues. Piquenique nas Ilhas Assolapadas. Si.

secret source

On this particular island, it's people that are deciduous. The fall is their season of wooing, when heads are ablaze with all shades of foxy splendors.
A winter of baldness will follow, time of hats and caps, berets and bonnets. (You should see the variety, metropolitan milliners go there for inspiration.)
But before, out of all shed hair, a mammoth herd of it, the people build a bonfire. Their fastest runner sets it aflame: it'll burn to ashes in an instant.
If you want to see it, choose a windy night, for it smells like hell does.
But what a flame.
Springs there tend to be shrubby.

Jul 19, 2008

crónicas da marquise

com o calor voltaram as osgas.
mexo silenciosa para não as afugentar.
fogem à mesma.

Jul 18, 2008

o emprego dos meus sonhos

acordei de cabeça torta e olhos inchados. um resto de sonho estava ao meu lado, na forma dum contrato por assinar. o outro outorgante, um tal de Hans Buffet, já o tinha feito, a sua letra bem legível sob um carimbo castanho. Depois acordei mesmo e o contrato se diluiu, antes que possa rubricá-lo.
Quem me estava assim a propor emprego? (Se é que era emprego, há contratos para tudo.)

hophop café e de copo na mão, mãe internet, por favor diz-me, quem é ele, que é?
ele é dourado, e vive na China:
Golden Hans Buffet
"'western' styled restaurant with homemade beer, all you can eat for RMB 30, and waitresses in 'swiss miss' outfits.
139 Ningxia Lu
Qingdao
宁夏路139号

A meio caminho entre Shanghai e Beijing, Qingdao é banhada pelo Mar Amarelo. Se tem o décimo da graça de Shanghai, vale a pena.
Mas um swiss miss outfit... o que sará? vejo uma mistela entre um dirndl puxa-mamas e o vestidinho da Heidi no desenho animado japonês. Não. Quand même.

há outro, mas tem apóstrofe e vive nos estados unidos:
Han's Buffet
Collinsville, Illinois 62234
is your best option for an All-You-Can Eat buffet with Chinese, American dishes along with a salad bar and desert bar. Children under 2 even eat FREE! They will most certainly enjoy our free ice cream refills.

Collinsville fica nos arredores de St Louis, não muito longe de Chicago, onde sempre sonhei ir. E sempre poderia estoirar as gorjetas em bolinhos de areia no desert bar... Mas scoopar ice-cream de borla dias a fio? Difícil.

Acho que o Hans vai ter de continuar a sua recruta nocturna. Mas tenho de lhe deixar uma certa pontaria no seu targeting...

Jul 16, 2008

o futuro na minha rua

a caminho de comprar melões, daqueles pequeninos cujo verde tira a sede só de olhar , cruzo duas velhotas aguarradinhas, vestidas de verão (folhos e rosas). comentam uma amiga que se perdeu no seu autocarro quotidiano. Teve de ligar ao filho, já nem sabia onde estava, coitada... riem-se dela, tão tola, tão mais velha. a amiga.

a pesar os melões, a fruteira não se contêm: quer falar, há algo que lhe pesa na alma. Normalmente não o faz comigo, estrangeiro é estrangeiro, mas hoje precisa mesmo. É que vai haver cada vez mais roubos e assaltos, menina, isto no próximo ano ainda vai piorar, estão a prever uma terceira guerra mundial...
Perante o meu ar de espanto, não estava a espera de tanto entre figos e nectarinas: são eles a dizer, menina, eu não que não percebo, só ouvi no rádio, mas que vai haver guerra vai, e de tal maneira que eles vão precisar de seis meses só para enterrar os mortos.

seis meses só para enterrar os mortos. a imagem que não se esquece mais, o pormenor concreto que mata. o orgulho dum propagandista qualquer.

Jul 14, 2008

à faire

un exercice peu pratiqué lui réveille les reins. elle n'arrive pas à se détendre. mais la petite douleur est bonne, aussi, comme une blessure de maladresse, que plus tard on ne s'infligera plus.
cette nuit chaude comme une absence, aussi entoureuse, aussi déséquilibrante, elle a envie d'y aller marcher. dans un rayon d'un kilomètre, elle connait tout. non. pas vrai. il y a l'immense verger d'oliviers qui lèche ses fenêtres au sud. tout près. mais fermé, enserré dans les immeubles de tout un bloc, elle ne sait même pas comment y entrer. voilà une bonne tâche pour la semaine à venir.
les autres sont:
dessiner des calvities
écrire à un homme pour accepter un voyage dans le grand nord (s'il veut bien le faire à pied)
écrire à un autre homme pour lui demander l'autorisation de transformer les images de son enfance (les films de son père) en les souvenirs d'un botaniste né de sa cervelle à elle.
et une pile de tâches si ennuyeuses qu'elle s'en cherche d'autres à toute heure.

Jul 13, 2008

à l'heure de la sieste

peut-être que le propre de l'homme, plus précisément que le rire ou les pouces opposables, réside en sa capacité d'oublier l'hiver en été, et en hiver, de plus rien savoir de l'été.

Jul 11, 2008

no second chance

today is the day when ants are born winged.
(flying! and then just one day to learn and soar)
i fish them from the pool by the netful.

Jul 8, 2008

dias de quase nada

ne l'vi nuis honc, tis luoges tis xistère, tis frad erval. Honc gnofelle. Prax grotelite mize enthan, ne luogreste. ag quem xar ysjoprè tam, merglous aglast vuiste astimion. nesfume laba nesgliste meter.

Jul 6, 2008

forever

the smell of geranium leaves, i'll gladly live in it.

Jul 5, 2008

deitada no barco de remos no silêncio do rio.
Lá alto, muy alto, três aves de rapina.

albert cossery


(férias é: tempo para desenhar)

Jun 30, 2008

full zero total glota

acabo de receber a tradução para inglês dum argumento meu.
É pesada, literal, terrível. Eu escrevi isto, assim?
A minha primeira reacção é contra o traductor. Não pode ser. Deve ter odiado o texto.
Falo com ele. Diz-me ter sido fiel. Preferia-o infiel.
A segunda onda dirige-se contra mim.
Ok. Eu escrevi isto assim. Portanto?
Portanto assim, nunca mais.
Que o traductor seja bom ou mau apenas interessa para o que eu tencionava fazer com a tradução.
Reaprendi o que já sabia.
(O que não se deixa traduzir é literatura.
Literatura é o que neste caso não quero)
Mais simplicidade. Fora com os efeitos de lingua. Todos.

Jun 28, 2008

chiens écrasés

ce matin à la radio, le café commence à glougloutir, une nouvelle en une seule phrase:
des scientifiques nord-américains ont établi qu'il y aurait une chance sur deux que le Pôle Nord se retrouve libre de glace cet été encore.
une chance sur deux. cet été encore.
le café a un drôle de goût.

Jun 24, 2008

Louisiane

Albert Cossery est mort. L'article était illusté d'un portrait magnifique, un visage comme un concentré de visage, vieux poing moqueur et minuscule qui saurait tout des bagarres et des caresses. Et des longues siestes, bien sûr.
Il est mort dans sa chambre de l'hôtel de La Louisiane, où, si j'ai bien compris, il avait vécu depuis l'après guerre.
J'y ai dormi quelques nuits, à la Louisiane, hôtel sans téloche dont les employés vous regardent dans les yeux, larbins de personne. Je me souviens y avoir pensé à lui, à Cossery, respect pour un fantôme (sans lui, certain gosse rageur n'aurait pas su se servir d'une fronde). Et j'ai honte: je le croyais déjà mort.

Un matin, avant de sortir de l'hôtel pour une rencontre importante, j'ai griffonné cinq-six mots, un truc-qui-porte-chance, sur un bout de papier que j'ai plié et replié, puis glissé derrière le miroir, certaine qu'il y resterait toujours, ou jusqu'aux prochains grands nettoyages, en tout cas bien assez longtemps pour ne plus rien signifier pour personne.
Le rendez-vous s'est bien passé.
Tard ce soir-là, de retour à ma chambre, j'ai ouvert les draps. Et j'ai retrouvé mon bout de papier, soigneusement placé bien au centre du lit, juste sous l'oreiller. Le hasard n'a pas les mains si précises.
Quelqu'un donc veillait sur moi avec gentillesse.
Une gentillesse un brin ironique.

Jun 8, 2008

my flesh and blood

someone i don't know sent me his book. a fat book, but even as such only the first part of the work, the second to be published in the fall. even the title is very long.
take it, it is mine, please eat it, i have prepared it.
will i will you?
everything depends on the words in the invitation.

Jun 5, 2008

Konsumwahn in der Hauptstadt

8 F-C wasserlösliche Malstifte (140,155,167,267,184,225,190,178) zu je Sfr 2.70
3 deutsche Taschenbücher zusammen Sfr 48.90
1 Express-Visum für die People's Republic of China Sfr 100.00
1 Salzbretzel Sfr 2.00

May 31, 2008

garden botanical


Today, for half an hour, i got to sell tickets to the butterfly house. Nobody came.

multiple choice

exposto à luz, todo o ser amado
1-esverdece ?
2-enverdece ?
3-verdifica ?
4-esverdeia ?

May 30, 2008

repetir

Duas da manhã. Emilia já ouviu o lixo passar em sonhos, quando acorda com gritos de mulher, na rua, uma voz jovem e aranhada:
só você
só você
só você
só você é que dá cabo
só você é que dá cabo de nós
só você
só você
só você é que dá cabo de nós

deve ser a habitante da ruína ao lado, um prédio que já há muito ficou sem água nem luz nem janelas. baixinha, está sempre muito bem vestida. Deve ter acesso algures ao armário duma tia defunta, camisas e casacos (1950, passeio na avenida) chegam-lhe pelos joelhos. Emilia vê-a as vezes pedir cigarros a entrada do metro.

cala a boca!

responde de cada vez, mil vezes, uma voz mascúlina.
Antes de voltar a adormecer Emilia ainda pensa que na idade adulta nunca ninguém a mandou calar assim. É bom não viver numa ruína.

May 27, 2008

it's late and the work's not nearly done

digression is distraction is drawing is temptation, not good so good
hey i'm sleepy

May 26, 2008

Phoenix

Umas horas atrás uma sonda da Nasa pousou as suas patinhas articuladas no Polo Norte de Marte. A sua missão: fotografias e amostras de terreno, de gelo em particular, que permitam descobrir "se há, ou tem havido, vida em Marte", diz o rádio da cozinha (que está nestes dias a desaparecer debaixo duma colecção de caixas de ovos. não perguntes).

E se descobre que "tem havido" vida? Que chegou, que chegamos tarde demais?

(Zeroglota, qué uma chata, resmunga no seu cantinho: Phoenix, que nome de péssimo augúrio ! Traz em si vestígios de tanta coisa morta, mais parece um sítio arqueológico que uma palavra. Phoenixes renascem, claro, cinzas feitas plumas e tudo, mas caraças, aquele "ph", aquele "oe", já levaram tanto sal em cima que nunca mais se endireitam. E até os próprios dos fenecidos Fenícios acham bem, ou não foram eles os grandes difundidores difusores espalhadores do alfabeto 1:1, 1 letra 1 som. Que deve ter um nome mais scientífico, pois.)

May 24, 2008

Gavriil et le mystère

Bien qu'il ait demandé à son chauffeur de foncer, Gavriil arrive en retard à l'anniversaire de sa fille Agata, ses amies sont déjà parties. Il joue au volant avec elle dans le jardin, lorsque soudain elle se rend compte que l'ombre de Gavriil a plus de présence que lui. Elle le lui dit. Il lui demande de ne pas en parler à sa mère, ce sera leur secret. Elle accepte, en échange d'une carte de crédit. Elle a onze ans.
L'année passée, il lui aurait raconté la vérité.
Where are the boys now? Sometimes Lúcia sees them everywhere, even in the clouds. Never all 17 of them together, and only when she's looking pretty hard. Technically that would be cheating, she guesses. Shouldn't brothers appear to you? So, well, what is there to say? she has completed the 17 shirts for some time now and the summer,this year, is slow in the coming

May 21, 2008

close call

Ich habe die Frau angeschaut. Gefallen hat sie mir. Ihren starken Gesicht, sauber wie mit der Axt geschnitten. Breite Schultern, langer Hals. Das winzige Pferdeschwanz, unnütz, nur zur Freude am Haarehochstecken. Da hab ich's verstanden: Sie sieht dir ähnlich. Sogar die Art, wie sie sitzt, spricht von Aikido.
Weite Schenkeln...ich schaue lieber nicht mehr hin.
Und doch ein letztes Blick. Ihr Buch: ein Lehrbuch. Sie lernt japanisch. Das ist zu viel. Ich will nicht.
Wie kommst Du, Du vor 20 Jahren, plotzlich hierher hineingebeamt?
Und dann kramt sie in ihrer Tasche und steckt sich einen Kaugummi im Mund. Sie kaut so kräftig, wie sie aussieht.
Das hättest Du nie gemacht.
Ich bin gerettet.

May 19, 2008

bern-lausanne 12:04

La jeune fille aux chaussettes de dentelle dans des ballerines crochetées qui lisait "Mädchen" en face de moi - article de couverture: was Jungs wirklich denken - a changé de revue. Maintenant elle feuillette "Girl" - article de couverture: Steht ER auf Dich?.

May 18, 2008

Vivre 240 ans

Hier, c'est moi qui ai repêché de l'aquarium de M. le minuscule cadavre du dernier poisson-néon (il avait les yeux bleus). Ni M. ni son fils n'ont eu de la peine: la bestiole avait vécu six ans, trois fois plus que les deux ans de son espérance de vie.

May 11, 2008

pentecôte

ça parle en langues.
langues de feu, les jolies petites flammèches signifieuses audessus des têtes des apôtres dans l'iconographie religieuse.
tous et on se comprend, chacun son idiome ses précisions ses idiosyncrasies rien n'est perdu ni le détail vif ni la mémoire incrustée dans le mot comme dans un fossile bavard.
parler en langues je veux.
aujourd'hui pour zero devrait être plus qu'aucune autre, plus qu'un bêta anniversaire, devrait être une fête, reconnaissance et compartage.
venez, mes beaux amours vivants et morts, venez et parlez-moi en langues à moi qui ici ces mots-ci ne les dis qu'en langue la mienne langue non plurielle pauvre d'elle.

May 8, 2008

evolution (for a finful of dollars)

Soniferous fishmother develops echolocator to monitor babies. Addicted adolescent soniferous fishson sells patent to predator dolfins to pay for his stuff. Fishmother teaches babies to grow feet and roam the dry country. She's gobbled but brood lives.
Heartbroken, adolescent fishson willingly enters fishsoup can.
(don't try this at home)

May 7, 2008

crime trois

ce désir qu'elle a parfois, Emilia, en prenant le virage qui lui découvre sa maison, de la trouver en cendres, calcinée jusqu'au trognon.
ne plus rien avoir, quelle tentation.

May 5, 2008

crime deux

"Capitalism without failure is like Christianity without hell" dit Warren Buffet, l'homme le plus riche du monde. La faillite serait un péché.

May 4, 2008

crime

le café est en haut de la rue escarpée.
Soudain dévale à ma rencontre une quantité de petites pêches encore vertes, dures et velues, rebondissant sur les pavés.
Hein? D'où viennent-elles, en pleine ville, ces promesses perdues?
Devant le café, une haute pile de branches aux feuilles frémissantes: quelqu'un vient d'abattre le pêcher de sa cour intérieure.

Apr 30, 2008

(veja ontem)

Winterbottom, como quem diz rabo de inverno,
lembra um dos meus dois provérbios portugueses favoritos.
Este é sábio:

cu de mulher e nariz de cão, é inverno mesmo no verão.

O outro é útil:
quem a porcos tem medo, até as moitas lhe roncam.

Apr 29, 2008


un nom comme une graine

hier à 23.17 exactement je suis tombée amoureuse d'un nom. Je me balade innocente sur le Net à la recherche d'un autre nom, qui de loin lui ressemble, quand soudain celui-ci apparaît et me foudroie, sans autre forme de procès.
Il appartient à un scientifique, ce nom, accollé à un cv, une photo, une adresse mail.

A 23.19 je rédige un mail, j'explique à ce nom que je vais le lui piquer, un tel nom de héros, un nom qui fait naître les aventures, je ne peux pas le laisser là, il me faut le ramasser.
L'homme ne me répondra pas, un scientifique dans une grande école, ça reçoit 10.000 mails par jour, le mien sombrera dans les marécages de la boîte à Spam. Je m'en fiche, j'ai son nom, sésame fertile.
Je le garde pour moi.
Vous n'avez qu'à vous balader sur le Net, vers 23.17.


PLUS TARD:
Mince! il m'a répondu:
"pas de pb ;)"
il m'écrit aussi qu'il a déjà cédé son nom et son image à Winterbottom pour Code 46, une SF dystopique, comme on ne dit pas en français.
Winterbottom, c'est pas mal non plus, comme nom. Mais le sien est mieux, mille fois mieux.
Par la fenêtre, ça sent la soupe aux pois, et il va pleuvoir.

Apr 13, 2008

home

Places i should feel at home in, where i’m so utterly a stanger that my principal quality becomes ugliness.
Is that the reason i became zeroglotte, or it it just a side effect of being one ?

(in english, girl of all beds)

Apr 9, 2008

clichés têtus

j'arrive en Suisse: à l'aéroport, un jeune homme en bleu de travail et gants de latex nettoie l'intérieur d'un distributeur de billets de banque à l'aide d'un aspirateur idoine.

Apr 6, 2008

zeroglotistics

i found one of us in Japan. his username is hide-as-gatsby.
one day of march, he wrote :

I'M SURVIVED TODAY

What makes it sound so much sadder, more tired, but also more stubbornly alive, that is much preciser, then I've survived? My uprooted brain or the passive voice? The slight sliding it introduces, towards a loss of balance?

yesterday Mathilde Monnier

the tension, the readiness to dance, what makes it visible? The bent foot, the open hand? small signs, read them all.


They say once is accident, twice tragedy, thrice comedy. By turning the individual and/or incidental gesture into a chorus (in and out of line, that's the game, the trembling of synchronism, in and out of focus) she plays with all of these registers. Well, not tragedy, here, since MM's dancers, like flowers, always come in odd numbers.

Apr 5, 2008

small girl and older man follow same pink skirt.

Apr 2, 2008

4 x Frühling

müde bin ich, ohne Ruh.
schliesse meine Augen zu?
Sand knirscht zwischen den Lacken.

Apr 1, 2008

multiplication des pains

en remontant la rue au sortir de la boulangerie, le pain me chauffe la cuisse à travers le tissu du sac.
Il y a longtemps, j'ai vécu un hiver rigoureux dans une famille nombreuse.
Là aussi, la rue montait entre la boulangerie et la cuisine matinale. J'y laissais les premières traces sur la neige encore nocturne, un gros pain chaud contre le ventre, fourré dans ma veste pour qu'il arrive tiède au petit déjeuner. Pouvoir acheter du pain pour toute une flopée de gens, voilà l'une des choses qui auraient pu me faire fonder une famille.
Mais non, pour ça aussi, celles des autres suffisent.

Mar 27, 2008

others lives


you sometimes look at.

Mar 23, 2008

racismo e saudade

Anteontem a minha amiga japonesa N., que estuda português há 20 anos, e é mesmo amiga, não só daqueles relacionamentos giros, explicou-me como para ela o racismo dos japoneses tinha a mesma origem que a saudade dos portugueses. Vou tentar repetir o ratiocinio, por favor não me estangules já.
Qual é a origem da saudade? O amor à, o desejo de algo talvez não perdido de todo, mas pelo menos afastado. Um pais, uma pessoa, um sabor, seja o que for que mesmo que brevemente nos pertenceu, ou melhor ainda, nos fez pertencer.
A saudade, é só entrar numa casa de emigrantes, de exilados, a saudade tem um poder momificador forte. Na saudade, as coisas não mudam. Ficam paradas. Mas ficar parado não é natural. Ficar parado não existe. As coisas, ou mudam, ou apanham pó e mais pó até desfazerem-se em poeira. O verdadeiro saudoso é portanto reconhecível ao seu espanador como Sta Clara a sua torre. Todo o saudosista (saudoso é morto, não? pergunta-se zero de repente) tem por missão proteger o que ama, ou, a falta disto, a imagem do que ama. Portanto espana. Limpa. Protege.
E chegamos a ponte entre saudade e racismo. Chama-se desejo de protecção.
Os japoneses são racistas porque querem proteger o seu pais das poeiras de mudança, que vêm agarradas as pessoas. Não o perderam ainda, estão apenas a precaver-se. Mais vale espanar que ficar despojado , acham eles
A teoria acabou ali. Confesso que o espanador é meu. Mas usam-nos muito mais lá do que cá. Os verdadeiros, os das plumas coloridas.
(outra coisa que eles agora têm, são jornais impressos em carácteres cada vez mais garrafais. A população está a envelhecer. Mesmo.)

Mar 20, 2008

Red and blue

It was in the winter of 91, just before the first Gulf War.
Emilia was young, fat, and hard working, a member of the art crew of a period movie, a smuggler's story on the spanish border of northern Portugal.
They were transforming a village stable into some kind of grocery - tavern of the late ’30, working with no electricity (a generator would come later), no tap water, in freezing temperatures. She loved it.
She was painting the ceiling a washed away blue that would need a coat of brownish yellow to look the right age, one foot on the ladder, the other in a crevice of the wall, when the stone crumbled, and she fell. No harm done, but the pot of paint landed on her head, as in the silliest of cartoons. Laughing like an idiot, blue color dripping in her eyes, she stumbled outside to wash herself at the village fountain, had to break the ice to get at the water, was for an instant almost indecently happy. So alive, all alone.

The next day she got a call from her family in another country. Her sister announced that if Emilia wanted to spend one more Christmas with their mother, she would have to come now. The illness was avancing rapidly.

Emilia spoke to her boss, and took a plane.
She came back for New Year’s Eve. The crew hadn’t stopped shooting, making the most of the precious snow. After a sad dinner of cold lamb in a dark hall, everybody walked to the firemen’s ball. There was nowhere else to go. Emilia followed. She didn’t care where she was, as long as she could drink, fast.
A fireman brought her a glass, then another. She knew him from sight, he sometimes played snooker in the bar where the crew gathered in the evenings, a red-head with freckles and an easy smile. He was assistent to the vet, working with him, vaccinating sheep in the villages. And it turned out he knew her. He had seen her that day, running covered in paint, had guessed her blunder, seen her joy. And fallen for her, then and there.
After that terrible week of death everywhere, it felt so good to be wanted, and wanted blue was even better. She flirted, and drank, and drank, and flirted.
Then, suddenly, he put his glass away, blinked his eyes, and proposed.
Even half-drunk, there was no mistaking the intensity : this was for real. She went cold, hadn’t seen it coming, who could have. She murmured sorry no sorry no, no, and ran.

The crew stayed three more weeks in the village. Emilia saw the fireman once again, at the snooker place, just a fleeting smile.

Then, two days before they’d go, a nervous man came to Emilia. He introduced himself as one of the fireman’s friend, insisted that he was coming on his own, not on an errand. He asked if Emilia would listen to him. Of course. They sat in a corner, the rest of the crew looking at them with jokes in their eyes.
The nervous man wanted to know if Emilia wouldn’t reconsider. The fireman was a good man, with some money to his name, some cows too. And so much in love. If she’d not at least talk to him, he was going to fall very ill. Hadn’t she noticed ?
Noticed what ?
On New Year’s Morn he had thrown his coat away, and ever since had been walking around in a open shirt, offering his heart to the cold.
No, she hadn’t noticed.
And no, she wasn’t going to change her mind.
Why ? asked the faithful friend.
She could give reasons, but they’d be excuses. So no reasons. Just not possible.

She still has the plastic boots she was using that winter. They're way too big, bought on purpose to accomodate layer upon layer of woolen socks, so she only wears them when it rains like fresh flood. But then she sometimes wonders what life would have been like with the red-head who loved a fat blue girl.

Mar 19, 2008

zwischen N'tel und Yverdon

an der Zugwand, einem Wölfli Zitat : « ich bin zur Ende Mutter. Verlasse Deinen Gott. Im kühlen grabe, ruht ‘R : Wir werden hier zu, Spott ». Darunter sitzt eine junge blonde Frau aus dem Osten, mit ihrem deutschen Freund : « hier in der Schweiz, ich hab geschaut im Fitness, und die Sauna, da ist es Männer und Frauen separat, ich finde schade. Vielleicht ist es auch wegen Religion. »
Er antwortet nicht.

tiny blue oath

long time no draw.
before friday i will.

(it's sunday and the oath still unkept)
(2 weeks later and the oath still unkept)
(April 6th, oath kept. Too late)

Mar 18, 2008

R.R.

la dernière fois que je l'ai vu, j'avais 14 ans. Lui 15.
Hier, au marché, il m'interpelle. Reconnaissance immédiate, mais je ne me souviens pas de son nom. Son visage ouvert n'a pas changé. On échange quelques phrases, un très bref état ds stocks. Il me dit: "Le mois passé, j'ai commencé un sport de combat, un truc israëlien, rien que des jeunes, moi avec mes 46 ans, ils me foutent de ces trempes... " il relève sa manche sur un bleu qui lui couvre tout l'avant-bras." J'en ai sur tout le corps." Il sourit. Je n'ose pas regarder. J'ai la bouche sèche. Cette étrange façon d'être vivant plus fort, en se cognant au vivant, je l'envie de toute ma peau.

Mar 9, 2008

yesterday, zero played roulette. A first in her life. Her two chips on zero, what else.
she won.

Mar 8, 2008

language des fleurs

Dans les magazins, la rue, le métro, partout aujourd'hui on distribue des gerberas aux femmes. Des gerberas, merde, quand même! Une fleur qui penche de la caboche deux heures après avoir été cueillie, tant qu'elle doit voyager couchée, pauvrette, et qu'on la ficèle de fer pour qu'elle garde de l'allure!
J'aurais préféré des jonquilles, ou des perce-neiges, tiens! un truc têtu, de saison, qui ne se laisse pas abattre. Et élégant avec ça, bien droit.

vaisselle

ce matin, j'ai cassé le petit bol de grès gris rapporté du Japon il y a dix ans.
je le jetterai plus tard.
demain?
le temps de deuil des objets, comme l'autre, ne se laisse pas prévoir.

(début mai: Je l'ai jeté avant-hier. Deux mois, ça a pris.)

Mar 3, 2008

iluminaçao no metro (linha verde)













Perceber que destino e sentido são anagramas um do outro.

Feb 26, 2008

AA (artista anónimo)

Ontem atravessei a Avenida da Liberdade na altura da Barata Salgueiro. Calçada a portuguesa do mais bonito, do mais complicado, mas já passei por ali mil vezes, era noite e estava com pressa.
Eis que de repente... no meio do passeio central, o da direita de quem olha para o Marquês, vejo

um barquinho de pedras

perfeito com as suas velas içadas, emoldurado num círculo, palmo e meio de diámetro. Ao máximo. Em pedras brancas numa extenção de pedras brancas (os floreados pretos estão mais para baixo) está por assim dizer invisível. Camuflado. Desfarçado.
Terá sido pelo irresistível prazer da técnica dominada, para enganar o tédio, ou uma aposta com os colegas?
Como foi? Quando? E sobretudo, quem ?
Penso que cada vez que ele por ali passa- raras vezes, mora longe- deve sorrir para os seus botões ao sabê-lo ali ainda, o barquinho, invisível velejante.
A força que isto me dá.

Feb 23, 2008

tragédie

est-il possible que ne se coupent que ceux qui voient les lames?

Feb 22, 2008

ce qui est à nous

Dans “Traplines in Vancouver” un documentaire de Benoit Raoulx sur les faiseurs de poubelles surtout récupérateurs de canettes, un homme sans-abri, dit que dans un certain quartier de la ville les gens sont religieux parce que leurs maisons sont à eux, en comparaison à un autre quartier où les gens ne sont que locataires, et donc pas si religieux.

Feb 20, 2008

crowds and the individual

i spent the day looking at american and portuguese footage, crowds in the streets of Lisbon, most of it from the 4os and 50's. Very obvious is that while the american eye looks for the individual, catches the outstanding identity be it ever so small, the portuguese sees the crowd as a mass, takes pain not to make anybody more noticeable then his neighbour.
Democracy versus dictatorship, or good photography versus plain?

Feb 18, 2008

one or two

it's raining so much i put my plastic boots on, the ones that brought me a proposal (the blue stain is still there, 15 years later).

(of zeroglotte's languages, only english has a special word for proposal. Pedido em casamento, demande en mariage, even Heiratsantrag is a composite of two. Does it mean something?)

(find the whole story: March 20th)

Feb 15, 2008

résistance

Mener une vie solitaire et coudre son nom dans chacun de ses vêtement, pour appeler l’occasion d'enfin les mélanger.

Feb 14, 2008

o cabeleireiro sangrento

Os ecopontos da minha zona costumam estar nojentos.
Hoje, o da padaria apresenta resquícios de massacre.
Espalhadas na calçada, enroladas no meio do lixo, duas cabeleiras femininas.
Longas madeixas morenas, lisas, misturam-se com outras mais curtas, alouradas.
Estranhamente mortas.
Vilipendiadas.

Feb 13, 2008

a quarta ao sol

sempre achei que um busílis era uma concha, por alêm do que mais significa. Pelo parentesco sonoro com búzio, suponho, vejo um episódio bíblico num deserto, outrora fundo do Mar Vermelho, onde cascos de cavalos egípcios primeiro na perseguição e depois no pánico da fuga partiram todas as conchas a não ser uma. O busílis.

Feb 12, 2008

fremder Mut

want to talk want to walk
want to exit the sleeping parts the sleeping places
rip the veil of scorching honey

Feb 11, 2008

Swan lake rajouton

Aujourd’hui j’ai lu le livret du Lac des Cygnes, l’histoire du prince qui doit prendre femme. Amoureux d’une cygne blanche, il croit la revoir dans une cygne noire, épouse celle-ci et ainsi condamne son aimée à la mort. Puis dans la mort il la rejoint.
Moi avant-hier j’ai vu que ça finissait bien. Qu’ils étaient dans la vie ensemble. Avec sa force à lui et son courage à elle.
Bien sûr je suis plutôt bécasse ou linotte, et les cygnes j'y connais que dalle, mais quand plantée toute nue devant l’homme qu’on aime on jette les sacs en plastique derrière soi c’est que ça finit bien. En tout cas pour un petit moment. On n’en demande pas plus.
merci le bossu.

Feb 10, 2008

Swan lake, 4 acts. Raimund Hoghe

Longtemps immobiles.
Comment commencer à bouger ?
Le bossu fait le cygne.
Nous voulons bien qu’on nous prive de presque tout, pourvu qu’ensuite on remplisse toutes nos mesures.
Mon voisin a accepté de venir avec elle au ballet. Ma voisine le regrette, il s’ennuie tant.
Le bossu meurt avec des douceurs ironiques.
Vient une rousse en tutu noir, ses bras nus vêtus de muscles vivants comme des vers. Son dos grouille.
La graisse, ça ne peut pas se contrôler. Ça pend, ça tremble. Pour cela qu’elle est défendue aux danseurs, parce qu’elle danse toute seule ?
Le bossu recouvre chaque petit canard d’un minuscule linceul.
Voici un jeune homme beau comme un gendre, mais pieds nus.
Comme je voudrais que quelqu’un s’élance.
Un spectacle sur ceux qui ne s’élancent pas ?
Le bossu est maintenant lui-même un canard mort, son souffle joue à la montgolfière avec le petit linceul.
J’ai envie que le grand prenne le petit bossu et le garde dans ses bras.
Le petit canard bossu est résolument vivant. Pas cygne mais vivant.
C’est un jeu de société, voici la jeune fille, elle a enlevé ses pointes pour jouer à ne pas mourir.
Le prince se promène parmi les respirants cadavres des volatiles. Comme il voudrait s’élancer, lui aussi. Sa force sa jeunesse tout est prêt en lui mais les élancements choses faciles n’ont pas de place ici.
C’est très beau. Je m’ennuie.
(Non, je m’ennuierais sans mon crayon.)
Deux canards -le bossu et le prince qui a le pouvoir sur lui- battent des ailes, lentement. L’un avec tension, le prince.L’autre non. Mon voisin s’endort sur l’épaule de sa copine.
Il rate la fin quand enfin ils s’aiment en silence comme des moulins à vents.
C’est pas la fin, je me disais bien, c’est l’entracte.
La femme revient dans son armure de côtes. Tous les canards sont à terre. Que fait le prince ?
Toujours résister à la musique. Ne pas suivre une seule de ses tentations. Je suis votre chef et votre serviteur, votre tyran qui manie la serpillière.
Le canard bossu se couvre de glace pour faire venir le prince et bien sûr le voici.
Sa grande chaleur virile de prince fait fondre les glaçons. Puis lui aussi veut essayer le jeu du sang qui gèle dans les veines. A nouveau on s’ennuie.
La respiration du bossu est fascinante. Où met-il son air ? Son ventre ondule en deux temps comme s’il savait ruminer l’air.
Mais le prince est à genoux. Et un prince à genoux demande qu’on s’agenouille.
Le bossu et le prince partagent le sang gelé comme un vaccin, un traitement. On s’embrasse et les baisers sont des glaçons. Ce qui fond entre toi et moi nous rapproche. La tendresse est sévère mais existe. Le bossu c’est la princesse bien sûr et comme toutes les princesses il se monte sur la pointe des pieds pour être plus facile à embrasser.
Puis il sème de la neige longtemps. Un effet qui dure n’est plus un effet.
La force inutilisée du prince à nouveau. Inutilisée.
Les doigt de ma voisine sur le bras de mon voisin ont déjà dansé bien plus que les danseurs, ils ne s’arrêtent pas. Il s’est endormi pour de bon.
Le couple princier traverse la scène, vers nous. Puis gravement immobiles.
Une valse enfin commence pour eux, une valse à un bras chacun, lente, bien lente. C’est beau. Viennent les autres canards, hiératiques. Ceux-là savent être des cygnes.La valse est devenue un puissant rapport de force. Oui de force, maintenant on l’utilise. Enfin on se met l’un sous l’autre.
Le prince tout seul se souvient de ce qu’il a eu entre les mains. Le bossu fait le compas dans la neige.
Le prince veut se donner mais personne ne le prend. Il devient la princesse. Alors le bossu/princesse lui donne son habit, et meurt encore, torse nu.
L’incroyable œuf que forme le dos bossu de la princesse mourante. Un œuf de cygne. On se demande comment la colonne vertébrale s’y fait sa place.
Comme il est beau le très jeune prince. Si bien droit. La princesse requinquée fait le ménage. Elle a l’air en colère. Le prince encore veut qu’on le prenne. Le troc n’as pas marché.
La princesse se déshabille toute, le prince la regarde, elle meurt toute nue, dos à lui, dos à nous.
Le prince lui souffle un linceul de poussière.
De fumée.
Le bossu ressuscite encore et se plante nue devant le prince grand et carré, lui si petit et tordu , de jolies fesses, ce dos qu’on ne comprend pas. A la main il a ses habits dans un sac de plastique, comme pour partir en courses, nu et tordu devant le beau prince, prêt au départ.
Tout d’un coup, il jette le sac en plastique derrière lui, ce vieux paquet de peurs et de précautions, il n’en veut plus.
Il est toute nue devant le prince. Leurs quatre mains sont ballantes et vides mais on se dit que plus pour longtemps.