Jul 16, 2008

o futuro na minha rua

a caminho de comprar melões, daqueles pequeninos cujo verde tira a sede só de olhar , cruzo duas velhotas aguarradinhas, vestidas de verão (folhos e rosas). comentam uma amiga que se perdeu no seu autocarro quotidiano. Teve de ligar ao filho, já nem sabia onde estava, coitada... riem-se dela, tão tola, tão mais velha. a amiga.

a pesar os melões, a fruteira não se contêm: quer falar, há algo que lhe pesa na alma. Normalmente não o faz comigo, estrangeiro é estrangeiro, mas hoje precisa mesmo. É que vai haver cada vez mais roubos e assaltos, menina, isto no próximo ano ainda vai piorar, estão a prever uma terceira guerra mundial...
Perante o meu ar de espanto, não estava a espera de tanto entre figos e nectarinas: são eles a dizer, menina, eu não que não percebo, só ouvi no rádio, mas que vai haver guerra vai, e de tal maneira que eles vão precisar de seis meses só para enterrar os mortos.

seis meses só para enterrar os mortos. a imagem que não se esquece mais, o pormenor concreto que mata. o orgulho dum propagandista qualquer.

1 comment:

  1. melões,

    no meio dos melões e ao lado das nectarinas, e claro que a terceira guerra vai ser algures, e alguém vai enterrar alguém, só ela julga, tal como Portugal inteiro, que vai continuar entre péssegos e figos.

    Tão típico e diferente do centro europa. Estou mesmo a ver a minha avó a dizer, dann haben wir wieder Krieg, a incluir-se imediatamente.

    Como é bom estar entre feijão e ervilhas, morangos e limoeiros!

    Do lado do mar surjiu, num pestanejar, um nevoeiro branquíssimo. os risos de verão agora um murmurio, as ondas um bocejo, e o olhar perdido na luz sem sombras em ti encontra.

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