Feb 27, 2009

S'étonner de la bienveillance des membres du groupe jusqu'à l'instant où il s'avère que chacun s'avance plus ou moins sur les mêmes pieds d'argile.

Feb 25, 2009

le grattement de la pelle à neige

Le soleil bas inonde le bureau de ma copine, couvert -c'est son métier- d'articles sur le zéroglottisme. en particulier tout un numéro de babylonia, sur l'attrition de la langue-le revers de la médaille du plurilinguisme. Ça comence bien: attrition... pour moi ça veut dire résistance de la matière, usure. Alors que Sprachverlust, perdita : nous y voilà!
Mais je voulais parler d'autre chose. Je voulais parler de l'homme du train. Du très très bel homme dans le train. Il lisait un journal gratuit germanophone, si concentré qu'il ne levait pas les yeux. J'en ai profité. Sa beauté était de celles qui accueillent, tranquille. Pas une petite affaire. Des os larges, des espaces définis, tout en lui calme et précis. Un repos qui n'excluait rien.
Bref trajet, gare terminale. Je suis descendue avant lui. Je n'ai pas sa patience.
Sur le panneau d'affichage, j'ai trouvé ma correspondance. Je me suis retournée: il était derrière moi, mon cahier à la main.
"C'est à vous ça? Je l'ai trouvé sur la banquette"
Sa voix lui allait bien.
""Oui! Merci!... Vous me sauvez la vie."
Il a souri, est reparti.
Ce cahier contient six mois de notes pour un nouveau film.
Trouver, perdre, retrouver.
Quelque chose en moi est prête à prendre plus de risques que je l'aurais imaginé.

Feb 24, 2009

sos

il est tôt, c'est comme s'il était tard.

(il faut dire que j'ai passé la moitié de la soirée à écouter une retraitée de la Poste qui racontait les cours de sexe tantrique auxquels elle a assisté en Inde. L'autre moitié a été réservée à la comparaison détaillée de la recette de bortsch d'Ana avec celle de Mariana)

Feb 21, 2009

anti-pickpocket

Nesta zona, até os supermercados são sinistres. Este está numa cave, e a mulher penava para subir as escadas. Içava as compras, um saco pesado, um degrau de cada vez. Corrimão, bengala, degrau, saco, corrimão, bengala...
Sem pedir mais licença que um olhar, Emília pegou no saco e depositou-o em cima das escadas. A mulher agradeceu. Palavra puxa palavra, Emilia acabou por acompanhá-la até casa, ali pertinho, mesmo atrás da sopa dos pobres.
À porta da rua, o medo e a desconfiança ficaram mais fortes que a necessidade, e Emilia despediu-se. Mas a Dona Palmira, com os seus 230 euros de reforma, não queria que ninguém ficasse seu credor.
Após muito vasculhar no porta-moedas, tirou 50 cêntimos. -Dá para um café, não dá?
-Dá, sim, mas eu não quero. Isto foi de boa vontade.
Não houve como, teve de aceitar. Pegou na moeda, 0,2% da tal reforma.
E agora?...
Emilia sorridente prolongou os agradecimentos, olhos nos olhos com dona Palmira... com o coração a bater e os dedos a procura por baixo do braço da senhora, curvado sobre a preciosa mala, até encontrar a racha do bolso e conseguir que a moeda caisse de volta onde pertencia.
A dona Palmira, louvados sejam deus e mais algumas entidades menos badaladas, não se deu conta de nada.
Então Emilia afastou-se triste.

Não dever nada a ninguém! Honra e orgulho. Lindo, sim. Mas que porra de burrice.
Não espanta que as donas Palmiras estejam a morrer de solidão.

Feb 17, 2009

Things to do before i die

Seeing the day break over the ocean at the origin of time
(man-made time, that is, Greenwich + 12, in the Russian far-far-east).
bragging about lost skills

Feb 16, 2009

Tarductora

Quando devia preocupar-me com traduzir amantes silenciosos e aceitar catastrofes em nome de outrém, deu-me para comprar as primeiras favas do ano. Tao finas e frescas e nem eram caras. Descasca-las ainda me deixou perder meia horita.

Agora tenho as maos a cheirar a verde e um atraso dos diabos.

Feb 15, 2009

vieille note to self (Jo, Zette et Jocko)

Conscience toujours présente de la fragilité de la moelle épinière, petit fil qui passe par le petit chas d’entre les vertèbres et s’il est cassé Apollo 13 ne répond plus ni même le Manitoba.
(C’est où le Manitoba ? Au Canada dry)

Feb 14, 2009

To all sirenians out there, join DALAB now, it helps.

as of tonight:
1 female writes her
222th post
3 half-hours before going to a chinese dinner of
4 different dishes,
5 walking minutes away from home,
6 or
7 or even
8 hours before going to sleep, depending on how fast the
9 pages she decided to finish today will be written.


I just joined DALAB (Draw A List Against Blubber). They had this irresistible add...


BLUBBER
v.i.: To sob noisily. See Synonyms at cry.
v.tr.:
1. To utter while crying and sobbing.
2. To make wet and swollen by weeping.

and

BLUBBER is also the thick layer of vascularized fat found under the skin of all cetaceans, pinnipeds and sirenians.

Feb 12, 2009

brain again

"I'm sorry, I'd really like to come with you guys, but I can't. What? ... Oh no, everything is ok, just some work I have to finish."

Feb 11, 2009

hoje, compras

A porta da rua bate. Nas escadas do prédio, o perfume da minha vizinha faz-lhe como que uma irmã mais nova, que a segue perguiçosa, vestida de amarelo narciso.

Na caixa do pingo doce, uma mulher apressada, vinda de fora, cumprimenta a empregada e murmura-lhe qualquer coisa ao ouvido.
- Não temos, responde ela.
- Mas não faz falta?
- Faz...
- Pois, há necessidade, remata a apressada.
Imagino o óbvio, a casa de banho, mas ela continua:
- Vai piorar muito. O código do trabalho foi aprovado. 12 horas de trabalho por dia...
A caixeira assusta-se. Volta a contar o meu troco. A recém-chegada debruça-se, mais murmúrio, não consigo ouvir.
- Não, não. Acho que não, responde a caixeira, não tenho vida para isto.
Um senhor vesgo surje das profundezas do supermercado, vem direito à mulher apressada :
- A senhora, o que deseja?
- Sou do sindicato.

Feb 10, 2009

Il portait sa mémoire devant lui comme certaines femmes leur trop riche poitrine, talon d’achille et bouclier, ensemble.

Feb 8, 2009

Mighty mouse e o alívio

O meu ratinho caseiro teve noite de Sísifo: primeiro fez cair o abacate do cesto da fruta. A grande custo, o cesto é fundo. Do tampo da mesa para o chão. Dali pela cozinha toda, patinha atras de patinha, um abacate de redondo não tem nada, roda pior que sei là, até à entrada do seu buraquinho. Onde o fruto não coube, nem neste sentido, nem no outro.
Encontrei-o ali abandonado, amachucado. Assinalando a morada roedora melhor que uma seta piscante...
Lembrei-me que pudesse ser mau augúrio, afinal hoje... mas logo o rádio trouxe notícia: os suiços votaram para a recondução da livre movimentação das pessoas. Que alívio. E ainda deu para um guacamole.

Feb 6, 2009

sobre o poder das mãos (fim)

A verdade é que nem as vi com olhos de ver, as mãos do osteopata. Estava eu tão concentrada em estar inteira debaixo delas, estas mãos, que nem me lembrei de abrir os olhos. Em troca a camada de cérebro que me serve de pele trabalhava a dois mil à hora. Basta que lhe tocam de certa forma em certos sítios, e hop hop hop lá se põe ela a iradiar mensagens líricas à todo o lado. Um disparate. Não há problema, até é normal, mas hoje o descodificador não queria funcionar. Acabei por dizer barbaridades e estou envergonhada.

Feb 4, 2009

fatiguée mais fleurie

escapar da chuva

No televisor do café imagens estranhas. De perto, pormenores de objectos muito antigos, sinuosos, retorcidos. Não percebo. Achados arqueológicos? Troncos queimados? Cachos de ostras fossilizadas?
Afinal são mãos de pessoas com lepra, reduzidas à coisas, primeiro pela doença, depois pela câmera. O meu olhar cruza o do taberneiro, um calmeirão. Não precisa de mais nada, pega no comando e muda de canal. Desenhos animados.
"Agora ponho isto muitas vezes, mesmo quando estou sozinho. Até com som. No posso mais com o Freeport, nos quatro canais, é isto ou a neve. Aquilo pelo menos tem muita arte. E é bonito. Tou farto de depressões".
Lá fora, a chuva transformou-se em granizo. No ecrã, quatro bébés pinguins vão acampar. O que é mais giro que um pinguim? Um bébé pinguim.

Feb 3, 2009

o dilema do costume

Será que posso (tentar) assassinar um ratinho do qual sei que prefere azeitonas à passas de uva, prova indubitável de juizo?

(Pensando nisto, se o juizo protege do assassínio, é estranho eu ter chegado a esta selecta idade. Talvez seja bom desperdir-me agora.)

Feb 1, 2009

abrigo

Se eu passo o dia a falar português enquanto o mundo em água se desmorona (isto sobretudo à noite com as árvores deitadas desnorteadas o eixo perdido porque ainda o meio-dia ao sol se roçava),
se eu passo o dia a trabalhar a palavra que é de todos em palavras portuguesas dizendo não sou portuguesa isto talvez melhor fica de outra maneira, da tua maneira,
se eu passo o dia nisto que sem ser meu é meu,
em que lingua é que à noite o desalinho que o dia deixou se exprime e sai e corre?

Hoje devia ser, devia, na lingua franca da água louca a bater na casa mal feita. Lingua de chuva, lingua das coisas que tinham peso mas hoje se esquecem para deixar-se arrastar, lingua de vento, lingua escura. Lingua que ninguém quer falar.
Tenho casa, mesmo que mal feita, tecto, mesmo que pinga. Falo e até há luz para dizer o pouco que posso dizer.
Protegida em português enquanto o mundo em água se desmorona.