Sep 17, 2008

Um sétimo do Inferno na Praça da Figueira

Confeitaria Nacional. Compro bolinhos de amêndoa para um amigo longínquo. Apressada e mandona, uma senhora ventripotente se dirige à empregada que avia o meu pedido, manda-a embrulhar roscas de limão, um saquinho, para mais logo. Roscas de limão? Não conheço. Peço à empregada que me pese uma, para provar. Ela, simpática, me oferece a dita por cima do balção, na ponta das suas pinças pasteleiras. E vejo a ventripotente ter uma espécie de espasmo do corpo inteiro para apanhar o biscoito, um reflexo de sofreguidão que só a custo consegue reprimir. Ponho o biscoito na boca, a mão dela treme de tanto querer. Enquanto não engulo, os seus olhos não me larguam os lábios. Isto não é fome, vem doutro sítio.
São bons, digo, para sacudir o desconforto. Muito finos, responde-me ela, por fim desviando o olhar. Muito finos, de facto.
Agora já consigo imaginar como é que a gula foi parar aos pecados.

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