Anteontem a minha amiga japonesa N., que estuda português há 20 anos, e é mesmo amiga, não só daqueles relacionamentos giros, explicou-me como para ela o racismo dos japoneses tinha a mesma origem que a saudade dos portugueses. Vou tentar repetir o ratiocinio, por favor não me estangules já.
Qual é a origem da saudade? O amor à, o desejo de algo talvez não perdido de todo, mas pelo menos afastado. Um pais, uma pessoa, um sabor, seja o que for que mesmo que brevemente nos pertenceu, ou melhor ainda, nos fez pertencer.
A saudade, é só entrar numa casa de emigrantes, de exilados, a saudade tem um poder momificador forte. Na saudade, as coisas não mudam. Ficam paradas. Mas ficar parado não é natural. Ficar parado não existe. As coisas, ou mudam, ou apanham pó e mais pó até desfazerem-se em poeira. O verdadeiro saudoso é portanto reconhecível ao seu espanador como Sta Clara a sua torre. Todo o saudosista (saudoso é morto, não? pergunta-se zero de repente) tem por missão proteger o que ama, ou, a falta disto, a imagem do que ama. Portanto espana. Limpa. Protege.
E chegamos a ponte entre saudade e racismo. Chama-se desejo de protecção.
Os japoneses são racistas porque querem proteger o seu pais das poeiras de mudança, que vêm agarradas as pessoas. Não o perderam ainda, estão apenas a precaver-se. Mais vale espanar que ficar despojado , acham eles
A teoria acabou ali. Confesso que o espanador é meu. Mas usam-nos muito mais lá do que cá. Os verdadeiros, os das plumas coloridas.
(outra coisa que eles agora têm, são jornais impressos em carácteres cada vez mais garrafais. A população está a envelhecer. Mesmo.)
Mar 23, 2008
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