Feb 28, 2014

está mal para o carnaval

no café onde o nevoeiro entra pelas portas abertas um miúdo de olhos brilhantes bigode encaracolado traço seguro no lábio um miúdo fala sem niguém querer saber o meu bigode é preto mas o cabelo castanho o bigode disseram-me cresce da cor do cabelo mas é bonito então deixei
A avó embevecida finge-se sem paciência
A minha mãe tem muito jeito para desenhar bigodes. 
A tua mãe? só se for por telefone! se riem as mulheres da mesa.  O miúdo ri com elas. A mãe longe mas o bigode. Hoje é dia de bigode, a professora disse que se podia.
No fundo do café onde o nevoeiro, um velho olha pela janela.
Está mal para o carnaval, mas está bom para as favas.

Feb 27, 2014

l'ennui du chaud





words everywhere no time to draw

Feb 26, 2014

paupières closes
le roux des roses
danse



des conneries du rien du tout les paupières oui le soleil froid même la danse oui mais tout ça simplement pour écrire pour écrire pour entendre le roux des roses quand elles sont si rose les roses qu'on voit déjà la fanure le rose qui tranche qui caille non cailler c'est acide qui chauffe qui se consume voilà qui se consume le rose vire au roux le roux des roses. voilà. 










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Feb 22, 2014

desenhar caras em batatas

e elas gostarem
















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transcrever entrevistas

a pergunta. e depois a maravilhosa diferença entre os que pensam em voz alta,  e os que pensam em silêncio.





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Feb 20, 2014

trees and other landscape pleasures

give great care to the selection and emphasis of essentials
while it's raining rain on a rainy morning, exercises drafted long before i was born. rainy peace, maybe.

Feb 18, 2014

oh raios

a internet inteirinha não me explica donde vem a palavra bitrécula. O sentido, vá lá, acabei por encontrar.

Feb 16, 2014

no Cabo de Todos os Ventos

ouvir o rolar dos seixos dentro do grande quebrar das ondas.






uma coisa é quase nada, e quase nada parece. uma coisa é outra coisa que não aparece. isto acontece

Feb 14, 2014

depois da tempestade


apanhar camélias caídas


(e mesmo nos rosas. aprender coragem)

Feb 13, 2014


sous ce regard dans ce regard sel inversé elle cicatrise













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Feb 10, 2014

late blush

a última malagueta enrubresceu
um esforço tão tardio
merece jantar bem regado

Feb 9, 2014

Tape. Bat. Frappe fustige fouette.
(ça vient de fagus le hêtre, fouette, en fait)
Ce soir c'est le vent. Le vent aveugle. Il lève aussi de si grandes vagues et close je ne les regarde pas, c'est dommage et normal comme le temps qui passe. Les choix.  Mes fenêtres donnent ailleurs, sur une autre ville dont la rue droite est tortueuse. La barraque craque se plaint prend l'eau. Partout des auréoles.
L'eau avec le vent a fait le monde et le refait.
Dans l'autre ville la vieille emmène ses petits-enfants acheter le cabri pour la fête. Il ne  pleut pas encore.

Feb 8, 2014

(mulher)

Mon dicionário do tradutor (Faro 2003) a d'étonnantes (res)sources:


Feb 7, 2014

A  senhora à minha frente na fila da caixa debruça-se sobre o meu pão-de-ló com um ar tão desconfiado que tenho de perguntar. Ela, peremptória: este não tem ló.  Eu: Ah sim? Mas como faz para ver, gostava de aprender. Silêncio. Cinco vezes eu pergunto, quatro vezes ela encolhe os ombros como quem sabe um segredo difícil de partilhar. Depois: é a crosta, veja aqui, tem de estalar um pouco, o ló vê-se pela fresta. Se não estala, está cozido demais, e não tem ló.
Ló? Ok, o creme, o recheio, aquela coisa que faz o pão-de-ló ser o que é. Não consigo largar a senhora. Disse que sabia como é que se faz, pode explicar? Posso. Então diga. Nem pestaneja: 24 gemas 6 ovos 800 gramas de açucar 6 punhados de farinha.
Faz muitos? Fazia. Aprendi com a avó do meu marido. Agora tem a receita mas falta o segredo.
Raios.
Já pagamos as nossas compras, não temos mais desculpa para ficar ali na palheta... Mas agora é a senhora que quer contar. Duas mulheres são precisas, uma só cansa-se. Em volta do alguidar grande, a colher de pau dá meia-volta na mão de uma, outra meia-volta na mão da outra. Tem de se bater pelo menos 1 hora. (Hoje em dia, com batedeira boa, 20 minutos chegam.) Sempre no mesmo sentido, hein! Sempre no mesmo sentido. Depois quando o açucar está em ponto de fita (Sabe o que é o ponto de fita? Não sabe? Quando atirado para a parede do alguidar, o açucar cai em fitinhas) depois é a farinha, polvilhada. Quem punha a farinha era a avó do meu marido.
Olhos a brilhar, o prazer a memória os tempos idos. O marido já morreu e a avó dele nem se fala. De repente uma sombra: não posso ensinar tudo. Nunca consegui tirá-los do tacho. São precisas duas tábuas, rapidinho, vira-se o tacho para uma, depois de imediato para a outra. Os meus sempre se partiram.
Não sei ensinar esta parte.

Mas o resto, sim.
Obrigada.

Feb 6, 2014

vocabulário minguante

Desde que tem o cachorro o vizinho só repete não, não não não! Mais alto mais baixo mais alto ainda em todas as nuances da autoridade.  
Não! 
Mas o não dele não funciona, parece. Até cão precisa de sim. 








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Feb 5, 2014

um florescer tão direito

(entre o cheiro e o desenho a boca foi mordida)

Feb 3, 2014

3 de fevereiro

a sala cheira a narciso os dias estão um pouco um nada mais longos a última luz por cima dos telhados tem o amarelo deles,
os narcisos que perfumam a sala entre paz e veneno









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