A peça vai ao meio. Beatriz Batarda, sozinha em palco, já foi velho a escarrar, velha ordinária, menina assustada, rapaz em noite de primeira piela, apaixonada sem sorte, e ainda há de ser muitas mais incarnações da mesma mulher, Ella Gerricke, que resolveu passar por homem para sobreviver na Alemanha dos anos 30 a 80. Agora está na pele de Max, o próprio marido, atrapalhado com as avanças duma rapariga - um pêssego-, em quem não sabe se pode confiar. A míuda oferece-se, Ella/Max hesita, punhos nos bolsos, doçura é doçura, e há tanto tempo que ninguêm lhe mostra carinho... quando um telemóvel toca na sala. Beatriz Batarda não pestaneja, fala, calma: "Desligue isto se faz favor." Uma senhora aflita vasculha no saco. Beatriz: "Vou esperar. Este momento é tão bom". A senhora encontra o telefone. Beatriz feita Ella feita Max volta a avançar os lábios para a bela. Mesma intensidade, mesma tensão, mesmo andar seguro na corda bamba entre irónia e grotesco. Até ao fim. Até que a morte venha, não magra e fininha, mas em cima de patinhas fofas.
Tanto controlo, tanto dominio, tanta entrega.
Tão bom. Sim senhora Senhor.
E obrigada.
Oct 2, 2008
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