A porta da rua bate. Nas escadas do prédio, o perfume da minha vizinha faz-lhe como que uma irmã mais nova, que a segue perguiçosa, vestida de amarelo narciso.
Na caixa do pingo doce, uma mulher apressada, vinda de fora, cumprimenta a empregada e murmura-lhe qualquer coisa ao ouvido.
- Não temos, responde ela.
- Mas não faz falta?
- Faz...
- Pois, há necessidade, remata a apressada.
Imagino o óbvio, a casa de banho, mas ela continua:
- Vai piorar muito. O código do trabalho foi aprovado. 12 horas de trabalho por dia...
A caixeira assusta-se. Volta a contar o meu troco. A recém-chegada debruça-se, mais murmúrio, não consigo ouvir.
- Não, não. Acho que não, responde a caixeira, não tenho vida para isto.
Um senhor vesgo surje das profundezas do supermercado, vem direito à mulher apressada :
- A senhora, o que deseja?
- Sou do sindicato.
Feb 11, 2009
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Hoje tb estive no Pingo Doce - até estive em 2 (Alm.Reis e Carlos Mardel) à procura de parmesão (risotto oblige). Mas não foi à mesma hora que tu - porque não tive direito a sindicato (e bem preciso). Mas encontrei parmesão (inteiro). Vá lá, vá lá. Bjs sindicais.
ReplyDeletepara lá da Fonte Luminosa começam as Terras Incógnitas...
ReplyDeleteobrigada, porque fui à Wiki desincognitar-me um nada : Carlos Mardel afinal é Károly Martell, húngaro, arquitecto militar, reconstrui meia Liboa, é responsavel pelo Aqueducto das Águas Livres e sobretudo, quem havia de dizer, um militar, desenhou a casa onde fiquei a viver, a Mãe d'Água. Sim, porque isto de ter fantasmas pode ter graça, mas ser fantasma não é mal de todo.