Feb 21, 2009

anti-pickpocket

Nesta zona, até os supermercados são sinistres. Este está numa cave, e a mulher penava para subir as escadas. Içava as compras, um saco pesado, um degrau de cada vez. Corrimão, bengala, degrau, saco, corrimão, bengala...
Sem pedir mais licença que um olhar, Emília pegou no saco e depositou-o em cima das escadas. A mulher agradeceu. Palavra puxa palavra, Emilia acabou por acompanhá-la até casa, ali pertinho, mesmo atrás da sopa dos pobres.
À porta da rua, o medo e a desconfiança ficaram mais fortes que a necessidade, e Emilia despediu-se. Mas a Dona Palmira, com os seus 230 euros de reforma, não queria que ninguém ficasse seu credor.
Após muito vasculhar no porta-moedas, tirou 50 cêntimos. -Dá para um café, não dá?
-Dá, sim, mas eu não quero. Isto foi de boa vontade.
Não houve como, teve de aceitar. Pegou na moeda, 0,2% da tal reforma.
E agora?...
Emilia sorridente prolongou os agradecimentos, olhos nos olhos com dona Palmira... com o coração a bater e os dedos a procura por baixo do braço da senhora, curvado sobre a preciosa mala, até encontrar a racha do bolso e conseguir que a moeda caisse de volta onde pertencia.
A dona Palmira, louvados sejam deus e mais algumas entidades menos badaladas, não se deu conta de nada.
Então Emilia afastou-se triste.

Não dever nada a ninguém! Honra e orgulho. Lindo, sim. Mas que porra de burrice.
Não espanta que as donas Palmiras estejam a morrer de solidão.

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