Feb 1, 2009

abrigo

Se eu passo o dia a falar português enquanto o mundo em água se desmorona (isto sobretudo à noite com as árvores deitadas desnorteadas o eixo perdido porque ainda o meio-dia ao sol se roçava),
se eu passo o dia a trabalhar a palavra que é de todos em palavras portuguesas dizendo não sou portuguesa isto talvez melhor fica de outra maneira, da tua maneira,
se eu passo o dia nisto que sem ser meu é meu,
em que lingua é que à noite o desalinho que o dia deixou se exprime e sai e corre?

Hoje devia ser, devia, na lingua franca da água louca a bater na casa mal feita. Lingua de chuva, lingua das coisas que tinham peso mas hoje se esquecem para deixar-se arrastar, lingua de vento, lingua escura. Lingua que ninguém quer falar.
Tenho casa, mesmo que mal feita, tecto, mesmo que pinga. Falo e até há luz para dizer o pouco que posso dizer.
Protegida em português enquanto o mundo em água se desmorona.

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