Logo que foi viver para a casa, há 7 anos, Emília pediu ao senhório a autorização de fazer obras. Ele deu. Tirar uma parede parecia boa ideia, ter uma sala maior, um sítio para jantares, gentes. Mas era a primavera, a casa nova tinha tanta luz que ela se deixou estar assim, nos quartos estreitos. Jantares eram na marquise, todos ao molho a pairar sobre a frondosa nespereira das traseiras.
Pouco depois, o homem que vivia com ela foi morar para uma casa mais escura. Não era uma questão de luz, era uma questão de amor.
Emília viveu lá seis anos, pouco mais ou menos. É mã com datas, ela, nunca se lembra de quando é que as coisas aconteceram. Viveu nos quartos estreitos, muitos quartos para uma pessoa só. Mas havia a luz, e a nespereira.
Há dois meses, cortaram-na, à catanada. Uma árvore alta de quatro andares, forte, folhas gordas, flores de outubro, fruta de Abril, Maio. À catanada.
Ante-ontem Emília pediu um orçamento para as obras. Entretanto já não era só a parede para tirar, também caiu o tecto por cima da banheira, e no quarto das traseiras, tão fresco nas noites estivais, o salitre come as paredes.
Ah, e o caruncho no soalho. Grandes tábuas à antiga, será preciso mudar umas três.
De manhã, recebeu o orçamento. Modesto. Fazível. Imaginou-se instalada, confortável.
E agora?
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