Jun 15, 2011


O barulho da chuva no telhado de vidro do Real Gabinete Português de Leitura, bom durante as pesquisas, pior na hora de fechar, quando os funcionários estendem infinitas cobertas de plástico sobre o velho balcão maciço que já ninguém usa, sobre as mesinhas estreitas e pouco cómodas, e que a gente tem de sair. Pela porta aberta vê-se a rua molhada, o trânsito irritadiço das metropoles ao fim do dia.


A rua é rua de sebos. O primeiro me dá guarrida. Deus! Uma estante inteira de dicionários! O Font-Quer das minhas cobiças, mas numa edição porca dos anos oitenta, as suas tão precisas gravuras borradas.


Me ajoelho para as estantes rasteiras. Mais um dicionário de Botánica? Editado em Lisboa pelas Tertúlias Edípicas? Edípicas? Que têm por simbolo a esfinge, a egípcia? Abro, claro, e... quase um ano de trabalho se desmorona. Caquinhos no chão, e lá fora a chuva.
Enfim, ganhei uma esfinge, hão-de se abrir outros caminhos...

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