Desde o início do ano, à cada hora que passa, mais uma família entrega a sua casa ao banco. 3 vezes mais que o ano passado, e dizem que vai piorar. Onde vai morar toda esta gente agora?
E as casas?
Oh as casas. Pastores especializados as vêm buscar de noite, à mando dos bancos, e de manhã onde havia lar só fica buraco.
Atravessam com elas as cidades, ainda de madrugada, como antigamente as manadas destinadas ao matadouro.
Quem as viu diz que as vivendas avançam pesadas, puxando raizes, enquanto os apartamentos flutuam na altura do seu antigo andar, fora do alcance humano, ninhos para passáros talvez, se uma janela ficou por fechar. Tudo obedece sem rebeldia, afinal não há nada mais doméstico que uma casa, tão fácil de abusar.
Juntam-nas nos arrabaldes, em aldeias inacreditáveis. Nas ruas vazias, o silêncio viscoso é apenas perturbado pelo tinir das muitas chaves que os pastores gostam de ostentar no cajado. Visitas são proíbidas mas não vai demorar muito para os miúdos organizarem lá concursos de partir vidros.
Apr 18, 2012
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment