Durante uns anos, o caminho de casa para o metro passou pela rua Violante do Céu, poetisa (1602 - 1693) Fazia me rir este nome, que raio de poesia é que se pode escrever com um nome deste? Violência dos céus, violetas esmagadas, enfim.
Hoje de manhã, aqui, encontrei a senhora, sóror.
Ao Padre António
Vieira, pregando do nascimento de N. Senhora
no Convento da
Rosa
Aspirar a louvar o incompreensível,
E
fundar o desejo no impossível;
Reduzir a palavras os
espantos,
Detrimento será de excessos tantos;
Dizer, do muito,
pouco,
Dar o juízo a créditos de louco;
Querer
encarecer-vos,
Eleger os caminhos de ofender-vos;
Louvar
diminuindo,
Subir louvando e abaixar subindo;
Deixar também,
cobarde, de louvar-vos,
Será mui claro indício de
ignorar-vos;
Fazer a tanto impulso resistência,
Por o
conhecimento em contingência;
Delirar por louvar o mais
perfeito,
Achar a perfeição no que é defeito;
Empreender
aplaudir tal subtileza,
Livrar todo o valor na mesma
empresa.
Errar exagerando,
Ganhar perdendo e acertar
errando.
Siga pois o melhor indigna Musa
E deponha os excessos
de confusa,
Que, para acreditar-se,
Basta, basta o valor de
aventurar-se;
E para vos livrar de detrimento,
Ser vossa a obra
e meu o pensamento.
Pois não fica o valor aniquilado,
Sendo
meu o louvor, vós o louvado,
Porque somos os dois, no
inteligível,
Eu ignorante e vós incompreensível.