Oct 15, 2011

sem medo (conto de vestiário)


Entram as quatro miúdas cinto negro do judo, encharcadas em suor. Uma estrela, três estrelinhas. Lavam a cara antes de partir para outro treino. Riem-se no espelho, de si, dos ombros espadaúdos que as afastam todas juntas do cânone feminino. Uma, 16 anos, músculos valentes e rosto de anjo bébé, é o Hulk. Minihulk? Qual Minihulk! Full Hulk. Uma das outras anuncia que é a Fiona. Na fase feia ou quando era bonita? Bonita só foi no inicio, quando estava sozinha. Então feia. O monstro cor-de-alface e a verde princesa dos peidos engasgam-se de riso.
Num repente: estou com uma fome destas. Já comia um sushi...
Lá se vai mais um preconceito. (Gosto do jeito que a vida tem de encher de imediato o vázio que eles deixam).

Uma vez cruzei-me com elas na avenida, já passava da meia-noite. Elas iam juntas, rindo alto como agora, desparatadas, sem medo nenhum. 

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