Nov 29, 2008

3,8 million years, wasted.

In the New York Times, in an article about a new study by Harvard researchers on the premature deaths that could have been prevented if the South African government had provided antiretroviral drugs to AIDS patients and widely administered drugs to help prevent pregnant women from infecting their babies, this :

« The 330,000 South Africans who died for lack of treatment and the 35,000 babies who perished because they were infected with H.I.V. together lost at least 3.8 million years of life, the study concluded. »

3.8 million years ago, in that same South Africa, some apes very very slowly began to discover their front paws could be used for more then just locomotion. (Almost 2 million years later, they had hands with opposable thumbs and weren’t apes anymore.)

Nov 28, 2008

e-pifanço

Se me pifou a wifi partilhada com os vizinhos. Eis-me de volta as cyber-cavernas. Talvez seja mal que vem por bem: adoro teclar entre estranhos, batatas fritas e hortaliças. Esta caverna é indiana, no balcão a televisão sintoniza a CNN e a conversa rola por cima da minha cabeça, a volta dos ataques em Mumbai-city. Falam como quem sabe, o Taj, o Leopold, eles conhecem.

Nov 27, 2008

Uma vocação (e o seu sintoma)

Sempre que entra numa pasteleria, F. não resiste: vai direito a vitrina das tortas de aniversário e ali verifica a ortografia dos votos escritos à fio de chocolate em cada uma delas.
E ai do empregado se faltar nem que seja o acento de Parabéns.

Nov 25, 2008

Seeing her face in the bathroom-mirror, Emilia suddenly remembered what she had dreamed.

Nov 22, 2008

Nov 21, 2008

fire-breather

there is a third one in the oven

Nov 20, 2008

na minha rua

É a hora onde o céu ainda está violento com o poente de outono, mas nas ruas já é noite. Da mercearia surge uma voz jovem "estive a morrer no hospital e ninguém veio ter comigo. Agora não vou, não." Cheira a tangerina e urina de cão.
Depois, atrás da curva, quando a subida se torna coisa séria e os candeeiros enfraquecem, uma mulher de sari tenta apaziguar a birra do filho mais novo, quatro anitos teimosos num bibe amarelo. O míudo amua, bate com os pés, anda uns passos a frente. O irmão mais velho aproxima-se da mãe, e diz, baixo : "ele é o mais intelligente da escola".

night-fright from the future

Yesterday, coming back from having seen only half of "Still Walking" by Koreeda Hirokazu (the digital projector fried and couldn't be repaired), the face reflected in the train window was the one I'll have in 10 years.

Nov 19, 2008

Nov 13, 2008

mémoire du corps

au vestiaire les bébés danseuses occupent le banc juste à côté de moi. je les regarde et rien à faire, je n'arrive pas à me souvenir de ne pas avoir eu de seins.

Nov 12, 2008

mas felizmente amanhã não é hoje.
dia de zigue e de zague, de decidir e desdecidir, esticar o esforço e deixa-lo arrefecer.
estoirada esgotada, parece. afinal não. ainda falta. Hoje já é amanhã.

Nov 9, 2008

premières langues

N. m'a apporté des navettes fendues comme des foufounes, dit-il, des vraies, des parfumées de la Rue Sainte, des miraculeuses, et ce soir je lui ai fait des langues de morues. On a parlé littérature.
J'ai plongé dans la chambre des cochons à la recherche de Ceronetti, j'en suis ressortie avec le Baluchon maudit et la Vie des saints du Jura. Ça a fait un mélange marrant qui allait bien avec le fromage.

Nov 7, 2008

China

Aos pais que perderam o filho nas escolas que o terramoto fez ruir, o governo chinês deu licença especial para fazer outro, para substituir o falecido.
Lá ninguem tem irmão. Só os velhos se lembram do que é ter mana mano manos.
Uma nação de filhos únicos.
La cuisine, les garçons qui passeront peut-être avant de ressortir, le verre de vin. Je déploie des ailerons de paresse, mais gonflés pour prendre chaque brise la plus minus, pour combler un retard qui étrangement ne me mord pas. Je le croirais presque sensé. Atteindre au vite par la lenteur est une stratégie dangereuse. Mais là toute posée mollets tendus pour ce qui viendra, j'ai pas peur.
je devrais?
devrais pas.

Nov 6, 2008

ce matin

Feux de sarments dans les vignes jaunies entre lausanne et genève. La fumée comme un animal malade rampe contre l'automne vif des peupliers.

Nov 4, 2008

ein Blech Kekse, ein Boot, ein Brief.
Nichts war da, und jetzt ist's doch da.
Hände können laut und können leise.
Essen oder Katze kraulen, das kann jede Hand.
Eine braucht Minuten um die neue Leber zu nähen im alten Körper.
Manche Hand kann Tage brauchen
um den Weg zu finden zur Tür, im unbekannten Zimmer.

Nov 3, 2008

afinal o velho encanto

há uns dias, uma semana talvez, Emília inocente e distraída foi beber café num egipto de pasteleria. O jornal estava a mão, ela fê-lo durar. Na mesa do lado, dois moços duas moças, todos eles limpinhos e com ar de quem almoça as quatro porque o trabalho é muito, mas não cansa. Um dos moços, cara de se chamar Miguel, rosto longo, maxilento, olhos amêndoas em olheiras redondas, muito juntos entre orelhas imensas, tudo isto salvo de qualquer feiura por uma regularidade áspera de eremita bizantino, Emília viu de ver. Depois saiu e achou-se esquecida. Até que há pouquinho se perguntou donde que vinham aquelas maças-de-adão em todo e qualquer cara-de-homem que lhe saía da caneta, se nunca antes desenhou maças-de-adão. E lembrou.
ó cobra linda cobrinha vai-te do meu caminho