Abertamente, no trocinho de rua, pouco mais que um beco, que sobrou do bairro de mã vida desde que a Câmara Municipal aí instalou escritórios, o pedinte cego fuma heroína. Vira as costas aos dois polícias que, dez metros mais além, vigiam a fronteira entre ordem e desordem. Será que sabe que estão alí? Será que não se rala? Será que vê cores?
edit 15 de março
E não é que toda a gente se arma em juizes? No metro, mal o pedinte passou, oiço um rapaz dizer à amiga : ele vê! eu já o encontrei a comprar droga no bairro. Desde quando é preciso ver para comprar droga? E ontem um velhote meigo, que me viu dar uma moeda ao pedinte: ele droga-se, sabe? Vc lhe dá dinheiro, ele vai comprar droga! Quando respondo que toda a gente tem de comer, ele atira-se para uma triste história, que nada tem a ver com o rapaz cego. Que lentamente vejo envelhecer, como eu.