Calor. Espreito na arca congeladora da mercearia russa ( uma vez encontrei lá um gelado de kefir e avelã.) Hoje vejo sanddorn, baginha laranja, nunca vista assim, inteira. A empresa é alemã, especializada em produtos para o leste. Daí o nome. Dicionário... Sanddorn é espinheiro marinho, ou falso espinheiro, a não confundir com espinheiro, que é como quem diz pilriteiro. Isto é, comestível, mas nada de especial.
Enquanto sanddorn... Natal de 1980, primeira grande viagem de boleia, sem um tusto, planeada como se fossemos atravessar o himalaia em dois dias (iamos da suiça até copenhagen) e portanto com os bolsos cheios de barras alemãs de sanddorn, que eu tinha decidido eram o alimento mais leve e o mais nutritivo. Nesta altura ainda não sabia que de boleia morre-se de frio, de tédio, de medo até, mas não de fome.
Bom mas o sanddorn? Como é que se prepara? A merceeira ucraniana explica, cabeça impressionante, como no seu pouco vocabulário consegue arranjar palavras que conseguem tocar no essencial. Sintética. Faz-se uma bebida, com açucar. Tão bom, útil para tudo, uma maravilha. Entusiasmada, chama-me querida a cada frase, no início e no fim.
Gosto.
Estranha lei, esta, que governa o aceitar dos enternecimentos mercantis. Da mesma família, me parece, que a que nos torna susceptíveis aos argumentos de certos mendigos, e doutros não. A primeira vista, tem a ver com sinceridade, mas não só. Vou ter que pensar um pouco.
Mas para a compota acidulada que dalí saiu, não é preciso pensar. Até a cor faz feliz.
Aug 6, 2011
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