Sep 11, 2010

partidas e chegadas

Talvez setenta anos, olhos brilhantes, fabrica frágeis máquinas do tempo  que precisam de manutenção quotidiana. Como não?
Oferece vinho, cinco minutos depois falamos de almas. As nossas não. Todas elas.
Onde se sentem bem?
No Cabo Espichel, acha ele. Não posso concordar mais.
Ri-se, vira a cabeça como um menino que vai dizer uma asneira.
É que, acha ele,  é que mesmo não sendo católico de ir a igreja, odiando a igreja, aliás, o Cabo Espichel, ele acha,  dali é que as almas partem para os céus.
Há alí vento que chegue -  espiritual e meteorológico - para levar qualquer alma para onde for, mas isto já sou eu.
Aos cachos, elas, como balões de feira, coloridas e bem tesas.
Depois me lembro de Ostia, porto de Roma, donde se dizia que as almas antigas iam apanhar o barco para o Lethe, onde toda cor acaba.  Ostia, tal como o Cabo, bem a jeito pertinho da capital, ninho de almas.

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