Ontem dois homens foram julgados no Porto. Tinham morto um amigo para lhe roubar dinheiro, e violado a companheira dele. Um deles foi absolvido, por ser inimputável, o outro condenado a 15 anos de prisão efectiva por roubo agravado por morte, sendo absolvido da acusação de homicídio "por não ter ficado provado que tenha agido com intenção de matar ou pelo prazer fútil de matar" lê-se no acordão, diz o artigo.
A futilidade como pecado último. (A frase soa mais a pecado que a crime.) Se o prazer tivesse provado fútil, o homem teria levado com quê? Prisão perpétua?
A presença do adjectivo me incomoda. Significará que há outro prazer de matar, um que não é fútil? Um que é aceitável?
Lembro-me do merceeiro da minha rua, um dia, a comentar uma caçada:
"sou como toda a gente, gosto de matar". Deixei de fazer compras na loja dele. Espalmar mosquitos é a única modalidade de matar a qual consigo associar a ideia de prazer.
Ou será simplesmente a junção das duas palavras que me cria uma espécie de embaraço moral? Matar e fútil. Não cola. Só a ideia mete nojo. Consigo imaginar um prazer de matar, uma inundação de poder, uma embriaguez de violência, mas fútil? Mesmo um sádico não é fútil.
"Não agiu pelo prazer de matar" teria chegado para explicar a motivação do magistrado.
Aquele "fútil" é uma janela no homem, neste homem em particular (nesta mulher?) por onde vejo tal proximidade com o assassinio que peço por favor que os acasos da vida me protegem dalguma vez ser julgada por pessoa que escolhe tais palavras.
Mar 30, 2009
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