Foi ela que as viu, penduradas num molho cerrado ao lado dos bacalhaus. "Vendem-se muito" disse o merceeiro abrindo o molho no balcão, uma enchurrada de chinelos de criar Lapónia naquela viela húmida. "Aquelas são de mulher, as de homem só as posso ir buscar para a semana. Escolham, escolham." O principe, realista, murmurou que de certeza que eram feitos na China. "Em Gouveia. Mas já quase não se fazem, já não há retalhos, a industria téxtil fecha toda. E as mulherzinhas, envelhecem. As mais novas já não querem". Ela, enfim, pantufa é pantufa, mas sempre se prova, não? O merceeiro:" São feitas de qualquer maneira, não há tamanhos, veja se quer grande, ou pequeno. Vá vendo". Qual tamanho qual quê. "Quero aquelas com as solas encarnadas". 4 euros e meio, foi o que o principe pagou.
Mais tarde, addenda já nocturna:
Ao fim e ao cabo quem traz as pantufas não é o principe mas a fada madrinha. O principe só mais tarde acha uma, a perdida.(Primeiro escrevi noturna. Mas noturna perde mistério e se torna soturna, voltou nocturna. Tanta batalha que ainda me falta vencer aos meus conservadorismos encapotados.)
Jan 18, 2009
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ontem vi , das Caldas, uma orelha em cerâmica para pendurar. Por baixo dizia: as paredes têm ouvidos.
ReplyDeletehoje li, as Caldas têm chinelos feitos em Portugal, procurados por Cinderellas.
E assim se torna colorido o mundo num dia tâo cinzento.