É um larguinho em declive atrás duma igreja brutalista, onde dorme gente debaixo dos loureiros. Hoje apenas vejo um homem novo, de colete amarelo, que toma pequeno-almoço em pé, o café poisado num dos bancos.
Há pouco, instalaram lá um abrigo, más é para pombos. Tiro uma fotografia a uma espécie de nave espacial feita come fósforos queimados colocaca em cima dum caixote de lixo, encaixe perfeito, parece feita de propósito. O homem aproxima-se, pergunta : é da Câmara? Não. E você? Sim, ou não. É empregado duma das empresas que a Junta de Freguesia subcontrata para as limpezas que a Câmara já não assume. Falamos um pouco, é do Punjab, donde saiu há seis anos, estudou turismo em Singapura, trabalhou em vários paises, agora está aqui, mas não é bom. Porquê? O salário? Não, a crise da habitação e as condições de trabalho. As condições de trabalho? Sim. O emprego é limpeza da rua, e não lhe dão nem uma ferramenta. Tem de apanhar todo o lixo à mão.
Tem de apanhar o lixo à mão.
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