Nov 13, 2016

linha verde, domingo de manhã

do fundo das míseras três carruagens às quais voltamos depois da breve bonança para acomodar os websumiteiros, oiço o pedinte. Não faz parte dos habituais, usa uma lenga-lenga sem silêncio entre as palavras que o torna difícil de entender. Não é que seja preciso, percebe-se o que ele quer. Tem a minha idade, uma barba grisalha, uma camisa de flanela. Pára à minha frente, olha para o caderno, olha para mim. Sem uma pausa, sem mudar de intonação, começa a explicar  que também desenha, que tem 25 capas desenhadas, que nunca publicou, que não tem dinheiro para publicar. Não pergunto "capas de quê?" Estupidamente, digo: "também não publico." Volta a olhar para mim. Afasta-se.

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