Sep 28, 2009

l'une est confiante, l'autre pas tant




"os olhos são para ver, e o que os olhos vêem, só o desenho sabe"
Almada

l'au-delà et la râpe à concombre

depuis ce matin, elle chante dans ma cuisine.
na mercearia, a mulher paga com uma de três notas novinhas em folha.
" estas notas vieram do banco PARA MIM!" uma pausa, sorri. "o meu marido, há 23 anos que estou com ele, só me dá notas velhas".

Sep 27, 2009

dia de eleições (collateral damage)

a pastelaria estava a abarrotar, e tudo a falar em ir, ou vir, votar.
Emilia acabou o café e saiu, sem nada de especial na cabeça. nenhuma intenção.
cinco minutos mais tarde estava no mercado, no meio das filas para as urnas. Alguém perguntou se podia ajudar. Não pode, obrigada.
e só alí é que percebeu que nunca tinha vivido num país onde tivesse direito de voto.

Sep 26, 2009

o fim da liberdade ( uma mãe do século XIX)



a gata tinha-se aventurado um pouco mais alto que costume, e já não conseguia descer. nada de grave, nem sequer tinha saido do quintal. a dona assustada mandou vir os bombeiros.


vieram.


só serviram para segurar a escada, foi ela que subiu.


mal voltou ao chão com o bicho, aliviada, saiu-lhe a voz de castigo:


"tu não sais mais, acabou. Não tens vergonha, não vais mais para à rua."


Sep 22, 2009

comportamento sustentável : reciclagem de festas alheias

exemplo 1:
era: aniversário de criança (acho)
passou a: pequeno-almoço de boas vindas.
surpresa total, sucesso absoluto.

Sep 20, 2009

tout le monde dormait encore

très tôt au grand hôtel de chandolin

Sep 14, 2009

toute une semaine dans les nuages

ferdinand hodler
sans net jusqu'au 21.

Sep 12, 2009

samedi

elle lui apporte des tournesols, piètre remède contre le délire.
elle n'en connaît pas d'autre.

Sep 11, 2009

une éphémère

elle dormait si belle, je m'y suis mise tout de suite.
l'ai aimée le temps du crayon (mais on le fait toujours, sinon pourquoi dessiner?), assez pour que, lorsqu'elle s'est redressée avec un sourire moqueur, demandant:
" je peux bouger?"
je me sente brûler les joues, brûler brûlantes.

Sep 10, 2009

no avião

aterrei em pleno Jejum de Genebra. versão protestante do ramadão (digo eu). um dia para pensar em boas acções, para não comer coisas caras (não se exige jejum à sério, isto é pais que odeia excessos, em que sentido for) e doar o dinheiro não gasto aos pobrezinhos. sem comentário.

Sep 7, 2009

Sep 4, 2009


"O facto de não vivermos para sempre não é pior do que não termos asas"

Susan Neiman, O Mal No Pensamento Moderno

Sep 3, 2009

ilhas pantanosas

nunca mais sai dali.

Sep 1, 2009

Deus 2

jamais pensé que Simenon me ferait éclater de rire. Comme quoi. Enfin, Simenon, du dictionnaire d'Assouline sur lui, des extraits publiés dans le Temps.

DIEU Je n’ai jamais eu l’appétit de Dieu. J’ai été chrétien parce que j’ai d’abord été élevé chez les Frères des Ecoles chrétiennes puis chez les Jésuites. J’étais un bon petit garçon qui faisait ce qu’on lui demandait. J’allais à la messe. Je communiais. A treize ans, quand j’ai couché avec la première fille de ma vie, j’ai totalement perdu la foi. (Entretien avec Paul Giannoli, Lausanne, nov. 1981)

Pierre Assouline Autodictionnaire

todos o conhecem (deus 1)

Tem idade incerta, jovem.
Magro que parece impossível, doente, talvez dependente, cego, há anos que pede esmola no metro, a bater rítmos com a bengala, a lata das moedas, os varões-de-se agarrar. Põe tudo a ressoar, cada vez mais intricado.
Dizia: continuo a agradecer quem tenha a bondade ou a possibilidade de me auxiliar.
(Lembro, é da rítmica.)
Agora de facto já não pede nada.
Diz: olá minha gente amiga, não tenho onde cair morto mas também sou filho de deus.
E passa, percussivo.